Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: agosto 2008

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Farra Olímpika


Os jogos olímpicos em Pequim nem acabaram, mas nós já podemos degustar do amargo sabor do fracasso e da incompetência, que persiste em se agregar à identidade e personalidade dos brasileiros desportistas. Na verdade, fico pensando no por quê de tanto alvoroço por parte da grande mídia, se no final, todos sabemos que os resultados não serão promissores. O desempenho do Brasil, nos esportes onde ainda há algum tipo de tradição, é simplesmente lamentável, para não dizer ridículo. Tome como exemplo, caro leitor, o ginasta Diego Hypólito. Não tratarei aqui de sua feminilidade. Longe de mim. Nada a vê... Mas, o cara era considerado o bam bam bam na ginástica solo. Ele foi classificado em primeiro para as finais individuais e na apresentação final, no último lance, quando o Galvão Bueno já estava laureando o acrobata tupiniquim, o atleta fraqueja e cai de bunda no chão. Na boa mesmo, eu pensei que aquilo se tratava de parte da exibição, pois como bem sabemos, no Brasil, qualquer coreografia artística acaba em bunda mesmo... pena que os juízes não sabiam disso. Péssimo hábito do Dieguito de resolver todos os problemas com a bunda, né?!?!? Fazer o quê?!?!? Se servir de consolo, fica a experiência para a próxima e vejam que desde de 1.500 o país está em estágio de experiência.

Outro pseudo grande astro, com não menos pífia participação, foi o judoca e garanhão João Derly. Bem, este pelo menos teve uma boa razão para perder, afinal de contas seria uma puta sacanagem comer a mulher do portuga e ainda eliminá-lo da competição. Derly teve pelo menos compaixão do pobre corn..., quero dizer, pobre companheiro de judô, e entregou a luta. A velha lógica: eu como sua mulher e eu deixo você ganhar.... Lei da causa e efeito, sem direito algum a relatividade...

Porém, até agora, o evento de maior significado, que realça a mediocridade da participação verde e amarelo nas Olimpíadas, foi o desfecho da participação da saltadora brasileira Fabiana Murer. De longe, ela conseguiu superar a chatice do Galvão Bueno, o fracasso da seleção feminina de boquete, ou melhor basquete, a jóia rara da Jade que mais uma vez chorou, e as demais deidades das terras brasucas que figuraram em Pequim. A Fabiana Murer, pasmem ficou abalada nas provas finais, com nada mais nada menos, que o sumiço de sua vara, digo a vara dela (lá ela). Neste caso, assim como muitas mocinhas proeminentes, o limite entre o fracasso e a glória, estava no pau, digo na vara. Mas, quando a vara finalmente apareceu, o que já era tarde demais, ela, pobrezinha, solitária sem a sua vara predileta não conseguiu mais de concentrar.... que loucura. Disso tudo surge uma pergunta que não quer calar: onde os juízes esconderam a tal vara da Murer?

Ora, se você acha que o pior já passou, deixa eu lembrar para você que não é bem assim... pois no futebol masculino o Brasil ainda enfrentará a Argentina, o futebol feminino sempre perde na final, a canoagem está a vê navios, e o mais duro, você ainda vai ter que agüentar o Galvão Bueno torcendo em plena rede nacional pela vitória que certamente não virá. Na verdade, a Globo é que está com a razão quando prega: “nosso esporte é torcer pelo Brasil!”, ninguém falou nada de comemorar...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Para o mundo nascer feliz...


"Muito bem, pessoal, quem fala aqui é Deus. Espero que estejam achando as cadeiras confortáveis. O lugar está meio apertado mas estamos ampliando. Provavelmente mês que vem já poderemos mudar para o novo lugar, com mais espaço e mais cadeiras. Peço perdão aos que tiveram que ficar de pé.
Pois bem, sei que não estão entendendo nada, mas é o seguinte: depois de milhares de anos e bilhões de reclamações de que os homens nascem sem serem consultados, resolvemos mudar as coisas por aqui. Na verdade vocês fazem parte de um teste. Por isso não, não é todo mundo que está sendo questionado antes de nascer. Vocês foram selecionados segundo critério nenhum, pois não se pode classificar alguém que ainda não viveu, não é mesmo? Tá, desculpem a piadinha infame.
Mas vai ser assim: a ficha que receberam tem uma senha. Vocês serão chamados um a um. Não vai demorar nada, pois o tempo aqui não existe. Então não se preocupem, certo? Quando chamarem, sigam para a porta que está no fundo. Lá vocês serão recebidos e lerão o contrato da vida. Nele está descrito todos os riscos que vocês assumem ao escolherem nascer. É simples e o encarregado da apresentação explicará o resto. É bem simples, na verdade.
Quem está aqui e já optou por não querer nascer antes mesmo de ver o contrato, pode tomar o caminho da escada rolante. Por favor, não tenham vergonha dessa escolha. Aqui não há julgamentos. Por isso, sigam para lá caso queiram.
Agradeço a colaboração. Na mesa do centro há uma caixinha de sugestões. Qualquer comentário ou crítica, por favor, preencham a ficha, escrevam e coloquem na urna. Queremos impressões sobre a nova idéia para aperfeiçoarmos todo o processo. Nossos gerentes estão montando o projeto e sugestões nessa etapa são muito bem vindas. É isso. Muito obrigado pela colaboração."
Poucos foram para a escada rolante, cerca de uma dúzia pelo menos. Piscou o número "415" e o chamado dirigiu-se para a porta ao fundo. A sala era pequena, cheia de arquivos. As cadeiras eram novas, bastante confortáveis. O teto ainda não tinha reboco. Estranhou o cinzeiro na mesa.
- É só decoração, não se preocupe.
- Entendo.
- Muito bem, aqui está o contrato. Alguma pergunta?
- Não, vou ler aqui. As letras não são pequenas como eu imaginava.
- É que aqui somos justos. Em outros departamentos as coisas são diferentes. Você deve imaginar.
- Sim, tudo está muito claro. Pensei que o texto seria rebuscado como a Bíblia também.
- É, depois do cinzeiro essa é a segunda coisa que notam. É que, sabe como é, não foi escrito por homens e tal... Então fica mais fácil para fluir.
- É, faz sentido. Bom, então vou ler aqui.
- Certo.
- Não entendi a parte do amor.
- Tá, é simples. Assim, você não vai ficar sabendo bem o que é, pois como é uma expressão divina, os homens vão tatear alguma coisa, alguns mais, outros menos. Você vai sentir, não vai saber de onde vem, não vai dar para explicar, mas todo mundo vai sentir. O que o trecho que você leu quer dizer é que mesmo que isso te cause problemas, você já nasce ciente de que terá que lidar com isso. Principalmente no que se refere aos humanos do outro sexo, no seu caso, às mulheres.
- Sei.
- Então, na maioria das vezes você vai se apaixonar por elas, vai amar algumas mas elas não irão te corresponder.
- Poxa...
- Pois é, mas é assim. Eva e Adão, entende? Pois é. Algumas vão te sacanear e tal, aproveitar que você é um bucha e te empurrar algumas frutas duvidosas.
- Tá, entendi. Dolorido isso, hein?
- É, pois é. Por isso demos mais atenção à isso.
- Beleza. Vou continuar aqui.
- Tranquilo.
- Essa parte das DST. Não tem como nascer com imunidade?
- Foi mal, mas não dá. Esse item só entrou por pressão do Lucas, aquele... Bom, deixa pra lá. É que a gente quis alertar, mas é só por ser politicamente correto. A intenção foi só essa. Pois tem muita gente que nasce achando que nunca é com ele, que só acontece com os outros, aí pega e aparece chorando na TV para contar a história, falando bobagens.
- É, tá certo. E essa do trabalho? Quatro da manhã não é muito cedo?
- Sim, mas vira a folha, isso, essa, a 6479: essa tabela são só exemplos do horário no qual, dependendo do seu emprego, irão te chamar. Mas aí varia de empresa para empresa, de país para país.
- E já nascer chefe, não dá?
- Ei, amigo, desculpa: a gente aqui não dá três pedidos para cada um que for nascer. Até pensaram nisso, mas o mundo acabaria habitado por ricos caralhudos, cada qual com sua Patrícia Pillar, como o Ciro. Não é bem assim...
- Tá, tá. Calma. O lance do país, dá para falar mais.
- Então, como você não pode escolher o lugar onde nascer, tentamos equilibrar algumas coisas. Por isso, dependendo de onde você nasça nós vamos dar condições para que algumas coisas se equilibrem. Por exemplo, se você nascer em um país de terceiro mundo ou na África, terá mais condições de aperfeiçoar seu lado humano e trabalhador, poderá ter um lado sensível mais apurado e, dependendo dos meio de comunicação locais, poderá pensar que é mais feliz, que tudo dará certo no final e que é um cara simpático.
- Hmm.
- E se nascer em um país abastado, com muito dinheiro, sem problemas de saúde, previdência vitalícia e tal, esse lado mais humano não será tão desenvolvido. Seus governantes serão meio estúpidos, falarão algumas besteiras que farão rir todo o mundo, mas você não vai entender nada mesmo, pois não sabe o que é o restante do mundo, então isso não o afetará. Seus sentimentos serão frios, pouco apurados e sua sensibilidade para captar humores e entender as pessoas que vivem ao seu redor será próxima a de um Coala cego.
- Tá, de qualquer forma...
- Bom, amigo, isso é o mais próximo de justiça que conseguimos, certo? Tá vendo aquela pilha de papéis? Então, é complicado. Lembre-se que, antes de tudo, estamos tratando com homens. E aquela pilha é o resumo da vida dos pais de todos os selecionados que estão aqui. Por isso é complicado. Tentar pescar tudo e colocar em um contrato foi trabalho de preso. Espero que, ao invés de você falar tudo aqui, faça uso da urna que Ele muito bem apresentou e...
- Calma, meu. Calma. Eu entendi, eu entendi. Esqueça isso. Vou continuar aqui.
- Tá, desculpe. Isso tudo é estressante...
- Sei. Mas me diga, essa parte aqui de lavar a louça...
- O que tem?
- Tipo, é obrigatório?
- Sim. Mas e daí?
- Assim... Lavar a louça? Se eu sujar eu lavo?
- Não, aí pode variar. Mas você realmente se importou com isso? Taí, novidade. Vou até anotar isso. Qual teu número mesmo?
- 415. Mas e então? Não tem como escapar?
- Escapar do quê?
- De lavar a louça.
- Amigo, você está brincando comigo?
- Não. Eu não quero nascer para lavar a louça. Tipo, do que conversamos até agora tudo é passável. Mas lavar louça? Não é para mim...
- Caro, você não vai nascer para lavar louça. Mas só previmos aí que, em algumas circunstâncias, isso existe na vida dos homens.
- Espera lá: e se eu só conseguir um emprego de lavador de pratos? Para isso eu não quero nascer.
- Não seja drástico. Por favor, não sejá drástico.
- Como assim? Eu estou falando sério!
- Não eleve a voz ou serei obrigado a chamar o segurança. Entendo sua posição, mas lavar a louça pode ser, sim, uma de suas tarefas enquanto vivo.
- Se é assim, não assino.
- Isso é sério?
- Claro. Desisto. Obrigado pela atenção, mas me desculpe: onde já se viu? Lavar louça? Isso não é vida...
- Eu que agradeço. Pode ir para a escada rolante e...
Bateu a porta. Estava furioso. Foi até a escada. Ela estava parada.
- Ei, amigo, quebrou. Pode usar a escada de incêndio, que aqui vai demorar para arrumar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Quando a Inteligência causa Medo


Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:

Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. isso é imperdoável! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta".

Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava n'uma carreira difícil. Isso, na Inglaterra. Imaginem aqui, no Brasil.

Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa: “Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma Ciência”.

A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder.

Mas, é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde os talentosos não conseguem passar.Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.

Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa se fingir de burra se quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social.

Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota, automaticamente, a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas... Enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender.

É um paradoxo angustiante !

Infelizmente, temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.
Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues... "Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra".

O problema é que os inteligentes gostam de brilhar!
Que Deus os proteja, então, dos medíocres!...

Eu sou Franjhunio
08.08.08