Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: julho 2009

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Malvado deus - Episódio II


Da Silva de Deus acendeu um cigarro e observou o colega, sentado à sua frente que, calmamente, comia um acarajé:
«Há novidades Jesus? O malvado deus já foi encontrado? Sabe-se ao menos onde estará?»
Em resposta, o agente abanou a cabeça negativamente. Respondeu com voz surda e monocórdia:
«As pistas são confusas, chefe. O malvado deus foi encontrado em vários lugares e sempre à mesma hora. Porra, com tantos álibis, vai ser difícil conseguir provar os seus tenebrosos crimes. Repare só: anteontem, às três da tarde, na Ribeiro; às três e cinco minutos em Cajazeiras; eram três e oito minutos e era visto fazendo compras na Baixa do Sapateiro, onde se fartou de dar autógrafos, sobretudo a um grupo de homossexuais cristãos que se reuniam na ladeira do Taboão…»
«Essa criatura tem o dom de está em muitos lugares ao mesmo tempo, Jesus… está presente em toda a parte, por isso, nem sei como o conseguiremos capturar?»
O outro riu com desusada desfaçatez e depois sacou de um enorme pistolão:
«Mas sei eu, chefe. Sei eu! Olhe só para esta beleza, uma VP70 da Heckler & Koch que, com um adaptador para ombro, pode fazer rajadas de 3 tiros. Quando vir deus dou-lhe uma chumbada nos cornos e depois, sempre quero ver esse dom da onipresença…»

O semblante de Da Silva modificou-se:
«Onde você conseguiu essa arma?»
Jesus deu uma longa tragada de chá, encheu o peito de ar, os seus olhos brilhavam anormalmente, quando respondeu:
«Conheço um oficial superior do exército que… que… quer dizer?!»
O inspetor esmagou a ponta do cigarro no cinzeiro e semicerrou os olhos:
«Entendo, Jesus, entendo!»

Foi então que o telefone tocou. O inspetor segurou o fone:
«Estou! Sim, sim, sim senhor, entendido… vamos já para aí.»
Pousou o telefone e levantou-se.
«Acaba o chá, Jesus! Deus voltou a matar. Vamos!»

Minutos depois, um helicóptero à serviço da polícia, levantava com destino a Candeias. Num petroleiro fundeado ao largo, o malvado deus assassinara dois marinheiros, mais o imediato e o terceiro maquinista… a técnica usada fora igual à anterior; retalhara-lhes os corpos com uma faca roubada da copa e, sobre os cadáveres, deixara a imagem da senhora de Aparecida.

Ao observar os corpos, Da Silva sentiu um leve estremecimento. Fechou os olhos e deixou-se ficar assim, por largos minutos, só os abrindo quando o agente o abanou levemente:
«Sente-se bem, Senhor?»
«Esta noite tive um estranho sonho, Jesus… um estranho e sombrio sonho! É como… como se soubesse que estas mortes iam acontecer… no sonho, o malvado deus desviava um navio, fazia reféns os seus tripulante e depois, com crueldade requintada, cortava-os e atirava-os aos tubarões… diabos, os bichos, enormes, rodopiavam vorazes em volta do navio, brigando pelo melhor bocado…»

Fez uma ligeira pausa que aproveitou para tirar o lenço Fo bolso. Limpou o rosto que começava a suar copiosamente:
«Mas há mais Jesus, há esta comichão invulgar nos testículos… há aqui algo de fantástico e tenebroso… sinto-o!»
Voltou a olhar os corpos. Nada de especial… só os cortes horríveis, as vísceras das vítimas espalhadas pelo 2º deck, o sangue que escorrera e formara uma pequena poça e depois, depois o grito do agente Jesus de Deus:
«Veja isto, chefe! Uma pena presa na antepara…»
O inspetor deu um salto:
«Que porra, uma pena! Que quer isso dizer?»
«Uma pena de pavão, chefe! O arcanjo Gabriel continua cúmplice do malvado deus.»
«Temos de a analisar no laboratório, Jesus. Guarda-a com mil cuidados e, já agora, verifica se o malvado deus deixou impressões digitais?»

***
Terá o malvado deus impressões digitais? E será fácil detectar ADN, nas penas do sinistro arcanjo Gabriel? E a comichão nos testículos do inspetor, será sinônimo de premonições futuras ou, muito simplesmente, resquícios de uma praga de piolhos da púbis, também conhecidos por “chatos”? Não perca o próximo capítulo, desta magnífica saga que começa a despertar enormes paixões e a criar profundas fendas no tecido religioso do país.


Por Franjhunio

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Malvado deus


Episódio
I


Todas as manhãs, ao levantar-se, o inspetor Da Silva de Deus enfiava-se no banheiro e por lá ficava durante mais de uma hora. Vício terrível, pois antes de fazer a barba e tomar banho, sentava-se no sanitário e lia uma ou duas páginas da Bíblia, que normalmente usava em substituição do papel higiênico. Era assim há muitos anos desde que, ao ler uma passagem da fecundação de Maria pelo espírito santo, sentira uma forte ereção. Desde então fechava os olhos e imaginava a virgem, seminua, uma virgem muito parecida com a Catherine Zeta-Jones, deitada na relva, pernas e lábios entreabertos, sussurrando, enquanto o espírito santo lhe roçava docemente os seios e o sexo.

Essa segunda-feira seria igual a tantas outras, não fora o telefonema inusitado do agente Jesus de Deus, comunicando-lhe que se deveria apresentar o mais rapidamente possível.

«Que houve?» perguntou enquanto abotoava as calças e se olhava ao espelho.
Do outro lado da linha, a voz metálica do agente, tinha uma entoação bastante grave:
«Temos três cadáveres à nossa espera… foram mortos com requintes de crueldade, acredite! “Querem que o senhor se encarregue da investigação, devido ao seu passado místico e ao fato de saber lidar com o sobrenatural…»
«Sobrenatural?!»
«Venha diretamente para o local do crime, depois perceberá! Conhece Mercado Deus é Bom, em Mussurunga?»
«Conheço! Estão lá os corpos?»
«Afirmativo! Traga um saco plástico, pois ao ver os mortos pode querer vomitar.»
«Ok, dentro de meia-hora estarei aí.»

Acendeu um cigarro, e entrou no Fiat Uno que acelerou sem piedade. O trânsito era insuportável àquela hora, na avenida Paralela «porque será que este rebanho de fdp não vai de transportes públicos para o trabalho?» pensou, e depois soltou um palavrão ao ver uma piriguete num carrão aos ziguezagues.
«Comprou a carteira, idiota? Aprende a dirigi, caralho?» gritou, quando ultrapassou, nem reparando no gesto obsceno com que ela, em resposta, o brindou.

O Mercado Deus é Bom ficava na zona mais sombria do bairro de Mussurunga, Mussu City como alguns chamam, exatamente no Setor H. Quando Da Silva de Deus chegou, já lá estavam alguns peritos e, uma barreira de proteção impedia que os “curiosos” se aproximassem. Os corpos, realmente, estavam bastante desfigurados. Alguém os retalhara barbaramente e depois, numa última demonstração de barbárie, lhes queimara os mamilos e o sexo.

«Quem são as vítimas?» perguntou.
O agente Jesus tirou um pequeno bloco de apontamentos do bolso e depois abanou a cabeça:
«Maconheiro… um deles, este, era também traficante… consumia e vendia… a sociedade não vai sentir a falta deles» terminou com um sorriso.
«Cê disse em algo sobrenatural, místico…!?»

Jesus voltou a sorrir… depois, com a cabeça, voltou a apontar os três corpos.
«Já os viu bem… quer dizer, já observou os corpos em pormenor?»
Da Silva debruçou-se sobre os cadáveres que começavam a exalar fedor.
«Está falando de…?» e depois verificou que, entre eles, havia uma pequena fotografia da senhora de Aparecida.

«Que porra é essa?»
Jesus de Deus continuava a exibir um sorriso sarcástico.
«E não é tudo chefe! Temos o depoimento de várias testemunhas… tudo gente ligada à religião, que afirmam ter sido convocadas por deus para este lugar, para assistirem à execução de pecadores e heréticos…»

«Onde estão essas testemunhas?»
«Anotamos tudo o que de importante tinham a dizer, e os mandamos embora. Com eles aqui isto era o fim do mundo… havia evangélicos, católicos, protestantes, até um praticante do hinduísmo … a conversa deles era a mesma… tinham sido convocados por deus para assistirem à matança…»

«E?!»
«Deus apareceu acompanhado pelo arcanjo Gabriel e, a acreditar no que dizem as testemunhas, este Gabriel usa roupas caras, tem o rosto azul e as suas asas são parecidas com as do pavão…»

«E?!» insistiu o inspetor.
«Parece que deus, antes de matar os desgraçados, se entreteve a sacanear com eles, a torturá-los e a contar-lhes piadas infames sobre o Céu e o Inferno e só depois os começou a retalhar com uma faca … quando algum deles tentava fugir, o arcanjo voava e trazia-o a espernear pelo ar. E é tudo.»

Aquilo não fazia sentido e Da Silva sabia-o. Contudo, no seu íntimo, qualquer coisa lhe indicava que havia alguma veracidade nas declarações do agente Jesus. Aquele caso, pressentia, ia dar-lhe dor de cabeça, até já começava a sentir alguma comichão nos testículos, o que significava que o que vinha a seguir não seria muito agradável. Voltou a observar os corpos e acendeu um cigarro.

«Suspeitas, Jesus, simplesmente suspeitas… você crê, deus vir até aqui e cometer uma crime tão horrível?»

«Desde que vi um porco andar de bicicleta, já acredito em tudo» respondeu Jesus. «O mundo está louco e, pelos vistos, o Céu também.»
Da Silva de Deus respirou fundo e enfiou as mãos nos bolsos… iria, claro, tentar desvendar o caso. Seria o que o malvado deus quisesse.

***

Não perca o próximo episódio.
Continuará o malvado deus e o seu fiel arcanjo a matarem impunemente? E o inspetor da Silva continuará com comichão nos testículos?


Por Franjhunio

Rezar pra quê?*


Por acidente, cruzei-me recentemente numa busca do Google com alguém que num fórum responde à pergunta “Que hobbies é que a sua família tem em conjunto?” como “rezar, ler a Bíblia e ir à igreja”! Achei bastante curiosa a resposta; pelo menos temos aqui um exemplo de sinceridade pouco comum quando se fala das razões pelas quais muitas pessoas são praticantes de qualquer religião (e isso inclui a simples oração), que - haverão exceções - se trata de uma prática egoísta na sua essência, uma vez que “salvar a pele” é uma das principais preocupações, aliás suportada por diversas passagens da Bíblia onde se garante uma “pós-vida” complicada para quem não exercer o seu quinhão de bajulação a deus...

Questionei-me o porque das experiências científicas por amostragem que já foram feitas chegarem à conclusão (seria preciso uma experiência científica controlada para chegar a tal conclusão?) que não existe nenhuma vantagem na oração nos casos estudados, não têm um impacto maior nos hábitos dos crentes e não se registra, portanto, nenhum decréscimo na quantidade de adeptos deste “método”.

Parece-me claro que não é pela ciência que se mudam hábitos religiosos; pelos menos, estes demoram muito tempo a adaptarem-se às novas descobertas. Os exemplos são demasiados para os enumerar e não é esse o objetivo aqui proposto.

Mas, qual será, então, a melhor forma de demonstrar que a oração é, de fato, utilizando a qualificação dada no relato do primeiro parágrafo, apenas um hobbie? A lógica? Duvido, mas quero tentar.

Para utilizar uma definição de Deus que me parece corresponder ao imaginário coletivo do mundo ocidental e suficientemente sucinta na sua forma, recorro ao New Shorter Oxford English Dictionary que define Deus da seguinte forma:

“uma pessoa sobre-humana a quem se atribui poder sobre a Natureza e sobre os destinos da Humanidade”

Ora, isto pressupõe um deus que criou o Universo como quis, impregnando-o a ele e a todas as criaturas, incluindo a Humanidade, de uma predestinação irreversível, imutável e perfeita, pois quem tem poder sobre todas as coisas apenas pode criar o que é perfeito, não conseguindo - sequer - imaginar algo que não o seja. Leibniz, filósofo, matemático e cientista alemão da viragem do séc. XVII, consciente desta característica de Deus, afirmou que quando alguém ora a Deus, este apenas tem uma resposta possível: “Meu caro senhor, eu já planeei tudo da melhor maneira. Se alterasse o futuro para sua conveniência, só iria estar piorando as coisas. Por isso, por favor, páre de rezar, está interferindo com o meu planejamento perfeito”.

Faz sentido? Parece-me que sim. A não ser claro, que a definição de Deus do New Shorter Oxford English Dictionary esteja errado!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Viva a Lua - 40 anos de pegadas


Comemorou-se ontem (dia 20.07.2009) 40 anos desde que a humanidade atingiu com sucesso um dos maiores sonhos da nossa espécie: ir à Lua e voltar!

O cumprimento do sonho realizou-se graças à persistência, ao evoluir da técnica, ao aprofundamento do conhecimento científico e também ao desejo que a nossa espécie tem de, individual e coletivamente, alcançar sempre os seus sonhos, por mais complicados que o caminhos para o sucesso se possam revelar.

A chegada à Lua é um excelente exemplo do que somos capazes de atingir enquanto coletivo. A Lua está sempre ali, quer sejamos ateus, cristãos ou hindus. A Lua está sempre ali, quer sejamos cientistas, poetas ou sacerdotes. A Lua está sempre ali… até para os filhos da puta...

A Lua, portanto, une-se a nós e une-nos no sonho. E isso só pode ser bom. Ora, se nestes pressupostos apenas vemos o bem, o que veremos nos seus opostos? O que veremos em algo que não se une a nós e que apenas contribui para a nossa deunião? E há tantas coisas que se encaixam nesta última frase…

Procuremos, então, outras Luas que se possam a nós unir e que nos possam unir; na persistência, na evolução da técnica, no aprofundamento do conhecimento e nos nossos sonhos. Sem dogmas, sem preconceitos, sem mordaças à persistência, ao evoluir da técnica, ao conhecimento científico e à nossa capacidade para atingirmos os nossos sonhos e muito mais. Isso porque enquanto o homem tem forças para sonhar ele pode libertar sua alma e voar, para cada alvorada de um novo começo... o problema é que quanto deus faz parte desta história, o homem está condenado a voar com uma bigorna presa aos pés... o vôo fica comprometido.

Por Franjhunio

25 Maneiras de Irritar um ATEU


1 - Pergunte-os porque eles estão chateados com Deus.

2 - Diga-os que se não há Deus, eles poderiam também começar a matar pessoas.

3 - Convide-os para rezar com você.

4 - Convide seus filhos para irem à Igreja com você.

5 - Insista que existe um Deus, e mostre que a Bíblia assim o diz.

6 - Quando lhe mostrarem a criação bíblica no Gênesis, insista que os Hebreus tinham todo tipo de conhecimentos científicos, por serem inspirados por Deus.

7 - Diga-os que o universo é complexo demais para apenas existir e que precisa ser criado por um Deus que apenas existe.

8 - Invente estatísticas.

9 - Termine a discussão com Bem, eu sei que vocês são mais inteligentes do que eu, mas eu sei que eu estou certo.

10 - Use a 2ª Lei da Termodinâmica deturpadamente para refutar a Evolução.

11 - Levante argumentos que não faça sentido algum, e depois critique suas respostas com O que você fala não faz sentido.

12 - Alegue que Einstein era um cristão.

13 - Alegue que Hitler era um ateu.

14 - Poste argumentos insanos no fórum, e não acompanhe as discussões.

15 - Diga que o laicismo não está na Constituição, e insista que ela é baseada nos 10 mandamentos.

16 - Cite Adauto Lourenço como uma fonte legítima de informação.

17 - …e o chame de "Dr. Adauto".

18 - Diga que eles sabem que Deus existe em seus corações.

19 - Depois de perder o argumento, diga Tenho pena de você.

20 - Acuse-os de vigorosamente negarem a verdade óbvia.

21 - Use péssima matemática para fundamentar suas alegações.

22 - Quando eles citarem um versículo bíblico que pareça ruim, diga que é o que o verso diz mas não é o que ele quis dizer.

23 - Argumente que as histórias bíblicas não são mitos… são parábolas. E que são todas verdade!

24 - Critique o Big Bang mesmo avisando que você é leigo em física.

25 - Diga que o dilúvio mundial ocorreu mesmo avisando que você é leigo em geologia.

Por Franjhunio*

*o engraçado mesmo, é que nada disso me irritou

quinta-feira, 16 de julho de 2009

É hora de sair do armário seu... ATEU



Outro dia estava vendo aquele filme Milk, com o Sean Penn. Para quem não viu, resumo: é a sobre início do movimento pelos direitos homossexuais em São Fracisco nos anos 70. Matam o cara no final. E como é baseado em fatos reais você não pode reclamar de spoiler. É ignorância sua mesmo. Mesma coisa que reclamar da galera que ficava na porta do cinema avisando que o Titanic afundava no final.

Enfim, em dado momento no filme Milk os gays chegam a conclusão que quanto mais eles se escondem, pior isso é para o reconhecimento de seus direitos. Isso faz todo sentido. Escondidos eles alimentam os mitos de que são bichas promíscuas. Saindo do armário eles mostram que cidadãos normais são gays e o “monstro desconhecido” toma a cara daquele vizinho gente boa ou professor dedicado.

Olhando esta história pensei que a estratégia de “sair do armário” também seria muito útil para os ateus. Até porque se assumir ateu é bem parecido com se assumir homossexual.

Nos dois casos sua mãe vai morrer de desgosto, você elimina qualquer possibilidade de virar presidente e Deus vai te odiar. E nem me venham dizer que o FHC é ateu e virou presidente. O cara não saiu do armário, justamente com medo de perder. Meteram esse terror durante a campanha dele da mesma forma que perguntaram sobre a família do Kassab no ano passado.



Mas é sério, ateus do meu Brasil. Tá na hora de parar de se esconder nos porões. Somos muito mais do que estes 2% declarados em pesquisas. Só assim mostraremos para a sociedade que não somos queimadores de cruzes ou violadores de túmulos. Que na real somos “mó gente boa” e que até respeitamos a grande maioria dos mandamentos divinos (acho que respeito todos, menos o “amar a deus sobre todas as coisas”) porque eles fazem todo o sentido. E isso é bem mais digno do que respeitar algo por medo de ser impalado no inferno.



Vamos subir um pouco o nível dessas manifestações pelo ateísmo de raiz, pelo ateísmo moleque, aquele ateísmo bem jogado pela seleção da União Soviética na copa de 70. Se você se acha um ateu de respeito só porque come churrasco na sexta-feira santa, reveja seus preconceitos. Quem acha que desrespeitar a quaresma é sinal de subversão é tão desprezado pelos ateus de raiz quanto os homossexuais engajados desprezam os pais de família enrustidos que comem travecos só para achar que ali tem alguma coisa que “nem é tão errada assim”.

E sem esse papo de “sou agnóstico”, “acredito em uma força maior que rege o universo”… Na boa, o agnóstico nada mais é do que um gay ativo, que acha que só porque come e nunca dá, ainda tem um pingo de heterossexualidade para tirar onda. Não existe meio-viado, então não tem como aceitar um “meio-ateu”. E é isso que agnósticos são: meio-ateus. Força que rege o universo de cu é rola. Seja homem e assuma uma posição nessa história.

Coloque a mão na consciência e ouça os seus instintos. Você sabe que é ateu. Assuma. Isso está dentro de você desde sua infância, da mesma forma que preferir brincar de boneca em vez de jogar bola estava dentro daquele seu primo que virou gay. Se está inseguro, peça ajuda para primo gay. Ele tem experiência e saberá te dizer como lidar com preconceituosos que gostam de queimar bruxas.

Ps. E se você é religioso ou agnóstico e quer discutir isso, aqui não é o lugar. Não estou dizendo que ateísmo é melhor e que sua fé não vale nada. Estou só falando para os ateus não darem ouvidos a caras como vocês e perderem o medo do que as pessoas vão achar. E, na boa, não perca tempo discutindo religião com um ateu. Isso é a mesma coisa que discutir as melhores tonalidades de Wellaton com um careca.

Por Franjhunio

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um ato de delírio... um insano. Vários insanos... uma religião!


Deus: Uma ilusão – de Richard Dawkins

Meu filósofo contemporâneo preferido, Andre-Comte Sponville, disse em um de seus livros algo assim: Argumentativamente é impossível convencer um nazista que ele está errado, e se em certa altura há nazistas tudo que se pode fazer para combatê-los é recorrer a anti-nazistas. É praticamente certo que a religião permanece firme em nossa sociedade, e, pelo menos no meu círculo de conhecidos, é muito comum pessoas que se dizem católicas não-praticantes. Talvez por andar próximo a pessoas que eu considere compatíveis com o meu modo de pensar, não tenho amigos religiosos, talvez sejam ateus, mas não posso ter certeza.

Em meus poucos anos de vida aprendi diretamente na prática que discutir com pessoas religiosas não dá certo. Não funciona. Elas não têm uma mente própria para a dialética, a argumentação lógica e a busca pela verdade. Considero, com Dawkins, que a verdade em si não é absoluta, e que cada um tem sua verdade, ou cada um busca a verdade que lhe convém.

E se assim estamos de acordo, porque escrever um livro com mais de quatrocentas páginas só para ir contra o pensamento religioso? Lembremos agora o primeiro parágrafo, contra nazistas só podemos arrumar anti-nazistas. Igualmente nesse caso, contra religiosos fanáticos só podemos arrumar anti-religiosos.

O livro é estruturado para combater ativamente toda a forma de argumentação, que por si só é fraquíssima, do pensamento religioso. Por quê combater? Porque é justamente isso que os religiosos estão fazendo contra, eles estão atacando. E pra valer.

Não só li o livro de Dawkins como assisti pela Sky aos documentários The root of all Evil e The God who wasn´t there, respectivamente “A raíz de todos os males” e O “Deus que não estava lá”, em tradução livre aqui. Assim como antes de “Deus: Um delírio”, li “As origens da virtude” de Matt Riddley. Confesso que fiquei espantado com os documentários. O número de pessoas influenciadas pelo pensamento religioso nos EUA é enorme e não só mantém para si sua crença como acham que devem passar adiante, criar uma nação cristã, ortodoxa, ou protestante, seja lá como for, suas ações ultrapassam seus cultos. Chegando inclusive a interferir no currículo escolar ao lutar pela retirada do ensino da teoria da evolução de Darwin substituindo-a pelo criacionismo do design inteligente de Deus.

E nós que estamos aqui, quietos, começamos a ver esse movimento vir para cima de nós como um problema, dos sérios. Por isso chega a hora de levantar a bandeira e brigar de igual para igual. Pois perder terreno nessa questão não é apenas se reduzir espacialmente, mas dar a chance de uma nova época de trevas ressurgir.

O mais engraçado, e trágico, de tudo é ver como os religioso negam veementemente a teoria da evolução de Darwin que foi testada através do método científico, mas aceitam em seus lares a luz elétrica, dirigem carros, confiam nos celulares para se comunicar etc. O método é o mesmo que domina as várias cadeiras da pesquisa científica. Mas inexplicavelmente, e coincidentemente, certa teoria que bate diretamente com sua crença é negada.

Então o tom do livro é desafiador. Ele confronta, é uma batalha a ser vencida. Por isso acho que algumas pessoas não são apreciar o modo de escrita de Dawkins, que eu acho delicioso, nem sua construção argumentativa. Aqui ressalta-se que os argumentos que ele propõe não se fazem para provar nenhuma teoria, mas para demonstrar diretamente o que está acontecendo atualmente, é um relato desesperado, cheio de esperança, que mais e mais pessoas se juntem em sua perspectiva e se proclamem ateus, ou adeptos das ciências. Coisa que é totalmente maléfica se você é um estadunidense. Ateus confessos sofrem em suas carreiras, seus relacionamentos, são excluídos de suas famílias e entre tantas outras reações extremas que o pensamento religioso incita aos seus praticantes fazerem.

O livro é magnético para quem gosta de uma argumentação, ele destrincha cada pedacinho do pensamento religioso e nos põe cara-a-cara com uma realidade, feia até, que precisamos ver. Por exemplo, seu argumento de que crianças não devam ser educadas religiosamente. É louvável tanta lucidez, e por isso mesmo nos sentimos um tanto incomodados com sua escrita. Realmente é nos primeiros anos de vida que a criança estrutura seu mundo, sua maneira de pensar, fixa a maneira de seu cérebro construir a realidade que vivencia. E se nessa idade o pensamento religioso é incutido em sua mente, de formas mais variadas possíveis, e o ato de julgar, criticar e pensar por si só é desencorajado, isso trás danos inversíveis para sua formação.

Bem não quero aqui ficar comentando sobre os vários capítulos, dez ao todo, do livro e o que ele aborda em cada um deles, mas quero frisar que sua mensagem é dura, ao mesmo tempo carinhosa, e se um punho firme é necessário para nos acordar de nossa letargia, pelo menos aqueles que são capazes disso, aqueles que se inclinam sobre a verdade, os fatos, a lógica e a razão, devemos nos proteger desse movimento perigoso.

De acordo com a constituição americana, a brasileira também, o estado é laico. Para permitir qualquer tipo de crença. Qualquer tipo de crença se equivale, e diz respeito somente ao que crê. Mas se certa crença quer reivindicar o país para seus fins, isso só pode ser um retrocesso de centenas de anos em nosso processo liberal. Vemos como isso influencia diretamente nossas vidas, vide Bush e sua guerra religiosa contra o eixo do mal. Pensar em termos de bem e mal em política é pensar não absolutamente mas em toda a gama que as manobras garantem as mais diversas atitudes, se nos entregamos à ação pelo cunho religioso... algo está errado.

É vergonhoso ouvir em tempos atuais alguém falando que um ateu irá queimar no fogo do inferno, e se você, leitor, acha que isso é coisa do Talibã do Afeganistão, essa palavras saíram de pessoas religiosas dentro dos Estados Unidos da América. Pessoas tão focadas na palavra que pregam que esquecem de todo o resto, fazem vista grossa às evidências, fatos, à razão e ao pensamento livre. Não seria de muito estranho se ao tomar o poder esse tipo de pessoa proibisse o ensino de filosofia nas universidades, reduzisse pesquisas com a moral religiosa e começasse a caçar pessoas que não crêiam em sua verdade.

O livro não é motivo de atiçar ninguém a luta a priori, mas devido à realidade que vemos hoje em dia, ele é um alerta, de uma pessoa centrada, calma e pacífica, de que devemos nos preocupar com o que acontece à nossa volta. E nesse ponto o pensamento religioso é pernicioso, é ultrajante e imoral, pelo menos para nós que cremos na razão. Mas se ninguém têm razão definitiva, basta que nos coloquemos em pé de igualdade com o outro lado. Dawkins começou o movimento.
Por Franjhunio