Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: Rezar pra quê?*

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Rezar pra quê?*


Por acidente, cruzei-me recentemente numa busca do Google com alguém que num fórum responde à pergunta “Que hobbies é que a sua família tem em conjunto?” como “rezar, ler a Bíblia e ir à igreja”! Achei bastante curiosa a resposta; pelo menos temos aqui um exemplo de sinceridade pouco comum quando se fala das razões pelas quais muitas pessoas são praticantes de qualquer religião (e isso inclui a simples oração), que - haverão exceções - se trata de uma prática egoísta na sua essência, uma vez que “salvar a pele” é uma das principais preocupações, aliás suportada por diversas passagens da Bíblia onde se garante uma “pós-vida” complicada para quem não exercer o seu quinhão de bajulação a deus...

Questionei-me o porque das experiências científicas por amostragem que já foram feitas chegarem à conclusão (seria preciso uma experiência científica controlada para chegar a tal conclusão?) que não existe nenhuma vantagem na oração nos casos estudados, não têm um impacto maior nos hábitos dos crentes e não se registra, portanto, nenhum decréscimo na quantidade de adeptos deste “método”.

Parece-me claro que não é pela ciência que se mudam hábitos religiosos; pelos menos, estes demoram muito tempo a adaptarem-se às novas descobertas. Os exemplos são demasiados para os enumerar e não é esse o objetivo aqui proposto.

Mas, qual será, então, a melhor forma de demonstrar que a oração é, de fato, utilizando a qualificação dada no relato do primeiro parágrafo, apenas um hobbie? A lógica? Duvido, mas quero tentar.

Para utilizar uma definição de Deus que me parece corresponder ao imaginário coletivo do mundo ocidental e suficientemente sucinta na sua forma, recorro ao New Shorter Oxford English Dictionary que define Deus da seguinte forma:

“uma pessoa sobre-humana a quem se atribui poder sobre a Natureza e sobre os destinos da Humanidade”

Ora, isto pressupõe um deus que criou o Universo como quis, impregnando-o a ele e a todas as criaturas, incluindo a Humanidade, de uma predestinação irreversível, imutável e perfeita, pois quem tem poder sobre todas as coisas apenas pode criar o que é perfeito, não conseguindo - sequer - imaginar algo que não o seja. Leibniz, filósofo, matemático e cientista alemão da viragem do séc. XVII, consciente desta característica de Deus, afirmou que quando alguém ora a Deus, este apenas tem uma resposta possível: “Meu caro senhor, eu já planeei tudo da melhor maneira. Se alterasse o futuro para sua conveniência, só iria estar piorando as coisas. Por isso, por favor, páre de rezar, está interferindo com o meu planejamento perfeito”.

Faz sentido? Parece-me que sim. A não ser claro, que a definição de Deus do New Shorter Oxford English Dictionary esteja errado!

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