Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: 2009

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Malvado deus - Episódio IV


O vôo do Airbus 350 da companhia Gol levava a lotação completa. Antes de iniciar a viagem, a aeromoça de bordo, uma loira de cabelo oxigenado onde as raízes pretas e crespas denunciavam a expiração do prazo de validade da progressiva, no meio do corredor, dirigiu-se a todos os passageiros:

«Atenção senhores passageiros, por favor… a viagem demorará cerca de duas horas, aterrizaremos no Aeroporto Internacional de Feira de Santana. Lá, na princesinha do sertão há muito sol e uma temperatura bastante agradável; agora, façam-me, ou melhor, façam-se um favor, ajoelhem-se e rezem duas ave-marias e um pai-nosso porque, apesar da experiência de vôo do nosso comandante, se alguma tragédia acontecer, o reino dos céus será o nosso destino.»
Entalado entre uma Testemunha de Jeová e Da Silva, Jesus de Deus desabafou:
«Não sei rezar, porra!»
«Mas finge que sabe, mexe os lábios e semicerra as pálpebras como se estivesses concentrado, assim ninguém notará a sua ignorância, entende?»
«Caralho!!! PqP!!!.»

Meia hora depois, o inspetor dava uma ligeira cotovelada no braço do seu ajudante.
«Você cuidou de tudo, né?»
Jesus sacou do bloco de apontamentos que consultou:
«Claro que sim… em Arraial D´juda estará Lúcifer, mais uns quantos amigos à nossa espera… e se levarmos a sério suas confidências, já não poderemos mais nos reunir na Arquidiocese de Salvador, porque o Ancebispo começa a andar desconfiado. Por outro lado, se somos descobertos, arriscamo-nos a ser assassinados pelos “secretas” da Opus Dei, na Bahia. A reunião foi alterada para o Rotary Club, uma instituição de todo o respeito dedicada à filantropia e onde nos sentiremos como se estivéssemos na nossa casa.»
«Que seja, então», replicou Da Silva e depois fechou os olhos e tentou adormecer.

Lúcifer era um tipo relativamente novo, vestia com gosto requintado e tinha uma linguagem fluente e simpática, até parecia um Mórmon. Na testa, indisfarçáveis, duas pequenas protuberâncias. Quando observou o olhar penetrante dos dois polícias, sorriu e justificou-se:
«Exato. São mesmo o que resta dos dois chifres que estavam implantados. Ainda fiz uma operação plástica mas, infelizmente, os cornos são como a barba, crescem e crescem, e tornam a crescer... acreditem-me ou não, todos os dias passo uma lima por cima. Enfim, é a minha sina!» Sorriu aberto e descontraído: «Fizeram boa viagem? Posso apresentar-lhes estes meus amigos que fazem questão de estarem presentes na nossa reunião? Todos têm contas a ajustar com o malvado deus.»

O inspetor observou os cinco personagens, esquisitíssimos que, entretanto, se aproximavam:
«Claro que pode, também nós ficaremos encantados por conhecê-los.»
Lúcifer voltou a sorrir, depois fez as apresentações:
«São Cipriano, famoso feiticeiro; Alessandro Cagliostro, ocultista e alquimista, estudou num seminário e depois num mosteiro beneditino, também se cansou de deus; Vlad Tepes, ou Vlad III, o Empalador, mais conhecido como Drácula; Paracelso, de seu verdadeiro nome Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, também alquimista e médico famoso; finalmente, Simão, o Mago ou o Gnóstico…»

Da Silva soltou uma sonora e irritante gargalhada:
«Que desgraça é essa, todos eles morreram há centenas de anos. Você está sacanagem comigo, é?»
Os olhos de Lúcifer faiscaram momentaneamente, só momentaneamente; depois, um sorriso doce animou-lhe as feições:
«Nada morre, meu caro, suponho que conhece a Lei da Conservação da Matéria, enunciada por um tal Lavoisier, um desgraçado que amava a monarquia, numa altura em que, em França, ser monárquico era um crime. Conhece? Então saberá que tudo se transforma, e que estes meus amigos, são apenas, tal como eu, representações, imagens, estereótipos... existimos sim, mas apenas nas suas cabeças, e só aí, entendem? Um poeta português escreveu uma vez: “Cada um é seus caminhos/ Onde Sancho vê moinhos/ D. Quixote vê gigantes/ Vê moinhos? São moinhos/ Vê gigantes? São gigantes.»
«Merda da filosofia de mesa de bar» pensou o inspetor, e depois deu uma palmada nas costas do outro:
«Claro que precisamos de vocês. O malvado deus anda matando ao léu, e temos de o apanhar. Vamos fazer a tal reunião?»
Todos riram em uníssono. Depois, conde Drácula, com voz fina, efeminada, explicou:
«Nunca perdoarei a deus, nunca! Era tão feliz quando estava com o meu preceptor…»
Lúcifer interrompeu-o para explicar:
«Drácula, realmente, tem razões de sobra para não gostar de deus. Adorava sugar sangue e outras coisas de rapazes virgens e inocentes. Deus enviou-o para um velho castelo na Romênia e deu-lhe uma esposa… Vlad III perdoou a deus por ter-lhe dado um reino; agora a esposa é que nunca o perdoará.»

***

Não perca o próximo episódio desta saga magnífica, onde nem tudo o que parece é. Os maus serão mesmo maus? E os bons, serão realmente bons? No próximo episódio tudo se esclarecerá, ou não, a ver vamos a disposição do narrador?!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O Malvado deus - Episódio III


Da Silva de Deus atirou violentamente ao chão o relatório que o laboratório de polícia técnica lhe acabara de enviar.
«Já leste isto, Jesus?»
O agente acenou que não com a cabeça, e voltou a embrenhar-se no problema de palavras cruzadas que o jornal A Tarde trazia.
«Pois devias ler… o DNA da pena encontrada pertence mesmo a um pavão… só que a um pavão morto, mortíssimo, é uma pena com mais de cinco mil anos.»
«Que esperava o chefe? Achava que o arcanjo Gabriel tinha 20 anos? Ou trinta? O arcanjo é velho, chefe, velho pra caralho.»
«Não gosto quando você usa esses termos, meu caro, ainda mais aqui, no ambiente de trabalho… fica mal para um polícia, entende?»
Jesus riu. Gostava de chatear o superior e, sobretudo, gostava de o chatear de manhã.
«E em relação às impressões digitais do malvado deus, que foi conseguido?»
Da Silva continuava furioso. Antes de responder, aproximou-se da janela e observou a rua, cinzenta, porca, mas maravilhosa e plena de vida no centro de Itapuã.
«Temos milhares delas, mas, infelizmente, deus não tem cadastro… quer dizer, não temos o seu registro, nem a sua morada, nem a sua profissão, nem a sua idade, nada! Dele, só as histórias que os imbecis contam e estes crimes horríveis.»

Jesus fechou o jornal. Acabaria as palavras cruzadas lá mais para o fim da tarde, agora o trabalho chamava-o. Perguntou:
«E em relação aos marinheiros assassinados? Sabe-se mais alguma coisa?»
«Há uma nova pista que devemos explorar… os marujos eram todos homossexuais.»
Jesus assobiou longamente:
«O que significa que?» inquiriu.
«Vê onde pretendo chegar… deus matou em primeiro lugar um grupo de toxicodependentes, depois um grupo de homossexuais…ou seja, deus está a matar premeditadamente grupos específicos de indivíduos e não de forma aleatória como inicialmente pensei; se a minha idéia estiver correta, o próximo crime será executado contra alguém de quem as religiões, sobretudo a católica, não gostam. Começas a perceber?»
«Claro que percebo. Até podemos, antecipadamente, evitar que certas mortes aconteçam.»
«Fantástico Jesus, é isso mesmo! Se nossas premunições estiverem certas, estão em perigo os ateus, os comunistas, as prostitutas…»

O outro interrompeu:
«Os torcedores do Bahia…?!»
«Deixa de ser burro, Jesus.»
«Deus não gosta do Bahia, chefe, está provado, esse time não sai da 2ª divisão, e quando sai, volta pra 3ª…»
Da Silva continuava:
«As lésbicas, os ciganos, os pagodeiros, os chicleteiros…»
Jesus voltou a interromper:
«Eita porra, deus não gosta mesmo de ninguém.»

O inspetor estava mesmo entusiasmado. Acendeu um cigarro, abandonou a janela e fitou o seu subordinado.

«Há outra coisa que me tem deixado pensativo que é a imagem da senhora de Aparecida entre os corpos mutilados. Qual será a relação desta imagem, com os crimes?»
«Por que não marca um encontro?» perguntou o agente.
«Como?»
«A senhora de Aparecida, por esta altura, costuma estar ainda em Salvador, no Terreiro de Jesus. >
«Não me diga isso!?»
«Digo, sim, ora digo! Li esta notícia no Tribuna da Bahia desta semana.»
«Jesus, Jesus, todas as informações que temos relacionadas com este caso são importantes e deves comunicar-me imediatamente, por favor. Vá, vê lá se descobre o número de telefone dela e marca um encontro.»
«Um encontro com a senhora de Aparecida?»
«Sim, claro!»

As coisas começavam a avançar, pensava o inspetor. A comichão deixara de o apoquentar e, apanhar o malvado deus, começava agora a parecer-lhe tarefa mais fácil. Vindo da sala ao lado a voz do agente Jesus, sobressaltou-o:
«A dona Aparecida não pode atender-nos durante esta semana, pois diz que continua muito cansada, mas foi de uma simpatia extrema. Nos indicou a Lúcifer, irmão gêmeo de deus, que pode dar-nos algumas informações…»

«Lúcifer também está em Salvador? Isso é a terra do cão!»
«Infelizmente não! Está em Feira de Santana em comissão de serviço, mas podemos ter uma conversa franca com ele… o fulano é sócio honorário do Rotary Club Internacional.»

***

Não perca o próximo capítulo onde conhecerá o famoso Lúcifer e sua corte diabólica. Mas não só: novos e terríveis dramas irão, certamente, acontecer.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Malvado deus - Episódio II


Da Silva de Deus acendeu um cigarro e observou o colega, sentado à sua frente que, calmamente, comia um acarajé:
«Há novidades Jesus? O malvado deus já foi encontrado? Sabe-se ao menos onde estará?»
Em resposta, o agente abanou a cabeça negativamente. Respondeu com voz surda e monocórdia:
«As pistas são confusas, chefe. O malvado deus foi encontrado em vários lugares e sempre à mesma hora. Porra, com tantos álibis, vai ser difícil conseguir provar os seus tenebrosos crimes. Repare só: anteontem, às três da tarde, na Ribeiro; às três e cinco minutos em Cajazeiras; eram três e oito minutos e era visto fazendo compras na Baixa do Sapateiro, onde se fartou de dar autógrafos, sobretudo a um grupo de homossexuais cristãos que se reuniam na ladeira do Taboão…»
«Essa criatura tem o dom de está em muitos lugares ao mesmo tempo, Jesus… está presente em toda a parte, por isso, nem sei como o conseguiremos capturar?»
O outro riu com desusada desfaçatez e depois sacou de um enorme pistolão:
«Mas sei eu, chefe. Sei eu! Olhe só para esta beleza, uma VP70 da Heckler & Koch que, com um adaptador para ombro, pode fazer rajadas de 3 tiros. Quando vir deus dou-lhe uma chumbada nos cornos e depois, sempre quero ver esse dom da onipresença…»

O semblante de Da Silva modificou-se:
«Onde você conseguiu essa arma?»
Jesus deu uma longa tragada de chá, encheu o peito de ar, os seus olhos brilhavam anormalmente, quando respondeu:
«Conheço um oficial superior do exército que… que… quer dizer?!»
O inspetor esmagou a ponta do cigarro no cinzeiro e semicerrou os olhos:
«Entendo, Jesus, entendo!»

Foi então que o telefone tocou. O inspetor segurou o fone:
«Estou! Sim, sim, sim senhor, entendido… vamos já para aí.»
Pousou o telefone e levantou-se.
«Acaba o chá, Jesus! Deus voltou a matar. Vamos!»

Minutos depois, um helicóptero à serviço da polícia, levantava com destino a Candeias. Num petroleiro fundeado ao largo, o malvado deus assassinara dois marinheiros, mais o imediato e o terceiro maquinista… a técnica usada fora igual à anterior; retalhara-lhes os corpos com uma faca roubada da copa e, sobre os cadáveres, deixara a imagem da senhora de Aparecida.

Ao observar os corpos, Da Silva sentiu um leve estremecimento. Fechou os olhos e deixou-se ficar assim, por largos minutos, só os abrindo quando o agente o abanou levemente:
«Sente-se bem, Senhor?»
«Esta noite tive um estranho sonho, Jesus… um estranho e sombrio sonho! É como… como se soubesse que estas mortes iam acontecer… no sonho, o malvado deus desviava um navio, fazia reféns os seus tripulante e depois, com crueldade requintada, cortava-os e atirava-os aos tubarões… diabos, os bichos, enormes, rodopiavam vorazes em volta do navio, brigando pelo melhor bocado…»

Fez uma ligeira pausa que aproveitou para tirar o lenço Fo bolso. Limpou o rosto que começava a suar copiosamente:
«Mas há mais Jesus, há esta comichão invulgar nos testículos… há aqui algo de fantástico e tenebroso… sinto-o!»
Voltou a olhar os corpos. Nada de especial… só os cortes horríveis, as vísceras das vítimas espalhadas pelo 2º deck, o sangue que escorrera e formara uma pequena poça e depois, depois o grito do agente Jesus de Deus:
«Veja isto, chefe! Uma pena presa na antepara…»
O inspetor deu um salto:
«Que porra, uma pena! Que quer isso dizer?»
«Uma pena de pavão, chefe! O arcanjo Gabriel continua cúmplice do malvado deus.»
«Temos de a analisar no laboratório, Jesus. Guarda-a com mil cuidados e, já agora, verifica se o malvado deus deixou impressões digitais?»

***
Terá o malvado deus impressões digitais? E será fácil detectar ADN, nas penas do sinistro arcanjo Gabriel? E a comichão nos testículos do inspetor, será sinônimo de premonições futuras ou, muito simplesmente, resquícios de uma praga de piolhos da púbis, também conhecidos por “chatos”? Não perca o próximo capítulo, desta magnífica saga que começa a despertar enormes paixões e a criar profundas fendas no tecido religioso do país.


Por Franjhunio

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Malvado deus


Episódio
I


Todas as manhãs, ao levantar-se, o inspetor Da Silva de Deus enfiava-se no banheiro e por lá ficava durante mais de uma hora. Vício terrível, pois antes de fazer a barba e tomar banho, sentava-se no sanitário e lia uma ou duas páginas da Bíblia, que normalmente usava em substituição do papel higiênico. Era assim há muitos anos desde que, ao ler uma passagem da fecundação de Maria pelo espírito santo, sentira uma forte ereção. Desde então fechava os olhos e imaginava a virgem, seminua, uma virgem muito parecida com a Catherine Zeta-Jones, deitada na relva, pernas e lábios entreabertos, sussurrando, enquanto o espírito santo lhe roçava docemente os seios e o sexo.

Essa segunda-feira seria igual a tantas outras, não fora o telefonema inusitado do agente Jesus de Deus, comunicando-lhe que se deveria apresentar o mais rapidamente possível.

«Que houve?» perguntou enquanto abotoava as calças e se olhava ao espelho.
Do outro lado da linha, a voz metálica do agente, tinha uma entoação bastante grave:
«Temos três cadáveres à nossa espera… foram mortos com requintes de crueldade, acredite! “Querem que o senhor se encarregue da investigação, devido ao seu passado místico e ao fato de saber lidar com o sobrenatural…»
«Sobrenatural?!»
«Venha diretamente para o local do crime, depois perceberá! Conhece Mercado Deus é Bom, em Mussurunga?»
«Conheço! Estão lá os corpos?»
«Afirmativo! Traga um saco plástico, pois ao ver os mortos pode querer vomitar.»
«Ok, dentro de meia-hora estarei aí.»

Acendeu um cigarro, e entrou no Fiat Uno que acelerou sem piedade. O trânsito era insuportável àquela hora, na avenida Paralela «porque será que este rebanho de fdp não vai de transportes públicos para o trabalho?» pensou, e depois soltou um palavrão ao ver uma piriguete num carrão aos ziguezagues.
«Comprou a carteira, idiota? Aprende a dirigi, caralho?» gritou, quando ultrapassou, nem reparando no gesto obsceno com que ela, em resposta, o brindou.

O Mercado Deus é Bom ficava na zona mais sombria do bairro de Mussurunga, Mussu City como alguns chamam, exatamente no Setor H. Quando Da Silva de Deus chegou, já lá estavam alguns peritos e, uma barreira de proteção impedia que os “curiosos” se aproximassem. Os corpos, realmente, estavam bastante desfigurados. Alguém os retalhara barbaramente e depois, numa última demonstração de barbárie, lhes queimara os mamilos e o sexo.

«Quem são as vítimas?» perguntou.
O agente Jesus tirou um pequeno bloco de apontamentos do bolso e depois abanou a cabeça:
«Maconheiro… um deles, este, era também traficante… consumia e vendia… a sociedade não vai sentir a falta deles» terminou com um sorriso.
«Cê disse em algo sobrenatural, místico…!?»

Jesus voltou a sorrir… depois, com a cabeça, voltou a apontar os três corpos.
«Já os viu bem… quer dizer, já observou os corpos em pormenor?»
Da Silva debruçou-se sobre os cadáveres que começavam a exalar fedor.
«Está falando de…?» e depois verificou que, entre eles, havia uma pequena fotografia da senhora de Aparecida.

«Que porra é essa?»
Jesus de Deus continuava a exibir um sorriso sarcástico.
«E não é tudo chefe! Temos o depoimento de várias testemunhas… tudo gente ligada à religião, que afirmam ter sido convocadas por deus para este lugar, para assistirem à execução de pecadores e heréticos…»

«Onde estão essas testemunhas?»
«Anotamos tudo o que de importante tinham a dizer, e os mandamos embora. Com eles aqui isto era o fim do mundo… havia evangélicos, católicos, protestantes, até um praticante do hinduísmo … a conversa deles era a mesma… tinham sido convocados por deus para assistirem à matança…»

«E?!»
«Deus apareceu acompanhado pelo arcanjo Gabriel e, a acreditar no que dizem as testemunhas, este Gabriel usa roupas caras, tem o rosto azul e as suas asas são parecidas com as do pavão…»

«E?!» insistiu o inspetor.
«Parece que deus, antes de matar os desgraçados, se entreteve a sacanear com eles, a torturá-los e a contar-lhes piadas infames sobre o Céu e o Inferno e só depois os começou a retalhar com uma faca … quando algum deles tentava fugir, o arcanjo voava e trazia-o a espernear pelo ar. E é tudo.»

Aquilo não fazia sentido e Da Silva sabia-o. Contudo, no seu íntimo, qualquer coisa lhe indicava que havia alguma veracidade nas declarações do agente Jesus. Aquele caso, pressentia, ia dar-lhe dor de cabeça, até já começava a sentir alguma comichão nos testículos, o que significava que o que vinha a seguir não seria muito agradável. Voltou a observar os corpos e acendeu um cigarro.

«Suspeitas, Jesus, simplesmente suspeitas… você crê, deus vir até aqui e cometer uma crime tão horrível?»

«Desde que vi um porco andar de bicicleta, já acredito em tudo» respondeu Jesus. «O mundo está louco e, pelos vistos, o Céu também.»
Da Silva de Deus respirou fundo e enfiou as mãos nos bolsos… iria, claro, tentar desvendar o caso. Seria o que o malvado deus quisesse.

***

Não perca o próximo episódio.
Continuará o malvado deus e o seu fiel arcanjo a matarem impunemente? E o inspetor da Silva continuará com comichão nos testículos?


Por Franjhunio

Rezar pra quê?*


Por acidente, cruzei-me recentemente numa busca do Google com alguém que num fórum responde à pergunta “Que hobbies é que a sua família tem em conjunto?” como “rezar, ler a Bíblia e ir à igreja”! Achei bastante curiosa a resposta; pelo menos temos aqui um exemplo de sinceridade pouco comum quando se fala das razões pelas quais muitas pessoas são praticantes de qualquer religião (e isso inclui a simples oração), que - haverão exceções - se trata de uma prática egoísta na sua essência, uma vez que “salvar a pele” é uma das principais preocupações, aliás suportada por diversas passagens da Bíblia onde se garante uma “pós-vida” complicada para quem não exercer o seu quinhão de bajulação a deus...

Questionei-me o porque das experiências científicas por amostragem que já foram feitas chegarem à conclusão (seria preciso uma experiência científica controlada para chegar a tal conclusão?) que não existe nenhuma vantagem na oração nos casos estudados, não têm um impacto maior nos hábitos dos crentes e não se registra, portanto, nenhum decréscimo na quantidade de adeptos deste “método”.

Parece-me claro que não é pela ciência que se mudam hábitos religiosos; pelos menos, estes demoram muito tempo a adaptarem-se às novas descobertas. Os exemplos são demasiados para os enumerar e não é esse o objetivo aqui proposto.

Mas, qual será, então, a melhor forma de demonstrar que a oração é, de fato, utilizando a qualificação dada no relato do primeiro parágrafo, apenas um hobbie? A lógica? Duvido, mas quero tentar.

Para utilizar uma definição de Deus que me parece corresponder ao imaginário coletivo do mundo ocidental e suficientemente sucinta na sua forma, recorro ao New Shorter Oxford English Dictionary que define Deus da seguinte forma:

“uma pessoa sobre-humana a quem se atribui poder sobre a Natureza e sobre os destinos da Humanidade”

Ora, isto pressupõe um deus que criou o Universo como quis, impregnando-o a ele e a todas as criaturas, incluindo a Humanidade, de uma predestinação irreversível, imutável e perfeita, pois quem tem poder sobre todas as coisas apenas pode criar o que é perfeito, não conseguindo - sequer - imaginar algo que não o seja. Leibniz, filósofo, matemático e cientista alemão da viragem do séc. XVII, consciente desta característica de Deus, afirmou que quando alguém ora a Deus, este apenas tem uma resposta possível: “Meu caro senhor, eu já planeei tudo da melhor maneira. Se alterasse o futuro para sua conveniência, só iria estar piorando as coisas. Por isso, por favor, páre de rezar, está interferindo com o meu planejamento perfeito”.

Faz sentido? Parece-me que sim. A não ser claro, que a definição de Deus do New Shorter Oxford English Dictionary esteja errado!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Viva a Lua - 40 anos de pegadas


Comemorou-se ontem (dia 20.07.2009) 40 anos desde que a humanidade atingiu com sucesso um dos maiores sonhos da nossa espécie: ir à Lua e voltar!

O cumprimento do sonho realizou-se graças à persistência, ao evoluir da técnica, ao aprofundamento do conhecimento científico e também ao desejo que a nossa espécie tem de, individual e coletivamente, alcançar sempre os seus sonhos, por mais complicados que o caminhos para o sucesso se possam revelar.

A chegada à Lua é um excelente exemplo do que somos capazes de atingir enquanto coletivo. A Lua está sempre ali, quer sejamos ateus, cristãos ou hindus. A Lua está sempre ali, quer sejamos cientistas, poetas ou sacerdotes. A Lua está sempre ali… até para os filhos da puta...

A Lua, portanto, une-se a nós e une-nos no sonho. E isso só pode ser bom. Ora, se nestes pressupostos apenas vemos o bem, o que veremos nos seus opostos? O que veremos em algo que não se une a nós e que apenas contribui para a nossa deunião? E há tantas coisas que se encaixam nesta última frase…

Procuremos, então, outras Luas que se possam a nós unir e que nos possam unir; na persistência, na evolução da técnica, no aprofundamento do conhecimento e nos nossos sonhos. Sem dogmas, sem preconceitos, sem mordaças à persistência, ao evoluir da técnica, ao conhecimento científico e à nossa capacidade para atingirmos os nossos sonhos e muito mais. Isso porque enquanto o homem tem forças para sonhar ele pode libertar sua alma e voar, para cada alvorada de um novo começo... o problema é que quanto deus faz parte desta história, o homem está condenado a voar com uma bigorna presa aos pés... o vôo fica comprometido.

Por Franjhunio

25 Maneiras de Irritar um ATEU


1 - Pergunte-os porque eles estão chateados com Deus.

2 - Diga-os que se não há Deus, eles poderiam também começar a matar pessoas.

3 - Convide-os para rezar com você.

4 - Convide seus filhos para irem à Igreja com você.

5 - Insista que existe um Deus, e mostre que a Bíblia assim o diz.

6 - Quando lhe mostrarem a criação bíblica no Gênesis, insista que os Hebreus tinham todo tipo de conhecimentos científicos, por serem inspirados por Deus.

7 - Diga-os que o universo é complexo demais para apenas existir e que precisa ser criado por um Deus que apenas existe.

8 - Invente estatísticas.

9 - Termine a discussão com Bem, eu sei que vocês são mais inteligentes do que eu, mas eu sei que eu estou certo.

10 - Use a 2ª Lei da Termodinâmica deturpadamente para refutar a Evolução.

11 - Levante argumentos que não faça sentido algum, e depois critique suas respostas com O que você fala não faz sentido.

12 - Alegue que Einstein era um cristão.

13 - Alegue que Hitler era um ateu.

14 - Poste argumentos insanos no fórum, e não acompanhe as discussões.

15 - Diga que o laicismo não está na Constituição, e insista que ela é baseada nos 10 mandamentos.

16 - Cite Adauto Lourenço como uma fonte legítima de informação.

17 - …e o chame de "Dr. Adauto".

18 - Diga que eles sabem que Deus existe em seus corações.

19 - Depois de perder o argumento, diga Tenho pena de você.

20 - Acuse-os de vigorosamente negarem a verdade óbvia.

21 - Use péssima matemática para fundamentar suas alegações.

22 - Quando eles citarem um versículo bíblico que pareça ruim, diga que é o que o verso diz mas não é o que ele quis dizer.

23 - Argumente que as histórias bíblicas não são mitos… são parábolas. E que são todas verdade!

24 - Critique o Big Bang mesmo avisando que você é leigo em física.

25 - Diga que o dilúvio mundial ocorreu mesmo avisando que você é leigo em geologia.

Por Franjhunio*

*o engraçado mesmo, é que nada disso me irritou

quinta-feira, 16 de julho de 2009

É hora de sair do armário seu... ATEU



Outro dia estava vendo aquele filme Milk, com o Sean Penn. Para quem não viu, resumo: é a sobre início do movimento pelos direitos homossexuais em São Fracisco nos anos 70. Matam o cara no final. E como é baseado em fatos reais você não pode reclamar de spoiler. É ignorância sua mesmo. Mesma coisa que reclamar da galera que ficava na porta do cinema avisando que o Titanic afundava no final.

Enfim, em dado momento no filme Milk os gays chegam a conclusão que quanto mais eles se escondem, pior isso é para o reconhecimento de seus direitos. Isso faz todo sentido. Escondidos eles alimentam os mitos de que são bichas promíscuas. Saindo do armário eles mostram que cidadãos normais são gays e o “monstro desconhecido” toma a cara daquele vizinho gente boa ou professor dedicado.

Olhando esta história pensei que a estratégia de “sair do armário” também seria muito útil para os ateus. Até porque se assumir ateu é bem parecido com se assumir homossexual.

Nos dois casos sua mãe vai morrer de desgosto, você elimina qualquer possibilidade de virar presidente e Deus vai te odiar. E nem me venham dizer que o FHC é ateu e virou presidente. O cara não saiu do armário, justamente com medo de perder. Meteram esse terror durante a campanha dele da mesma forma que perguntaram sobre a família do Kassab no ano passado.



Mas é sério, ateus do meu Brasil. Tá na hora de parar de se esconder nos porões. Somos muito mais do que estes 2% declarados em pesquisas. Só assim mostraremos para a sociedade que não somos queimadores de cruzes ou violadores de túmulos. Que na real somos “mó gente boa” e que até respeitamos a grande maioria dos mandamentos divinos (acho que respeito todos, menos o “amar a deus sobre todas as coisas”) porque eles fazem todo o sentido. E isso é bem mais digno do que respeitar algo por medo de ser impalado no inferno.



Vamos subir um pouco o nível dessas manifestações pelo ateísmo de raiz, pelo ateísmo moleque, aquele ateísmo bem jogado pela seleção da União Soviética na copa de 70. Se você se acha um ateu de respeito só porque come churrasco na sexta-feira santa, reveja seus preconceitos. Quem acha que desrespeitar a quaresma é sinal de subversão é tão desprezado pelos ateus de raiz quanto os homossexuais engajados desprezam os pais de família enrustidos que comem travecos só para achar que ali tem alguma coisa que “nem é tão errada assim”.

E sem esse papo de “sou agnóstico”, “acredito em uma força maior que rege o universo”… Na boa, o agnóstico nada mais é do que um gay ativo, que acha que só porque come e nunca dá, ainda tem um pingo de heterossexualidade para tirar onda. Não existe meio-viado, então não tem como aceitar um “meio-ateu”. E é isso que agnósticos são: meio-ateus. Força que rege o universo de cu é rola. Seja homem e assuma uma posição nessa história.

Coloque a mão na consciência e ouça os seus instintos. Você sabe que é ateu. Assuma. Isso está dentro de você desde sua infância, da mesma forma que preferir brincar de boneca em vez de jogar bola estava dentro daquele seu primo que virou gay. Se está inseguro, peça ajuda para primo gay. Ele tem experiência e saberá te dizer como lidar com preconceituosos que gostam de queimar bruxas.

Ps. E se você é religioso ou agnóstico e quer discutir isso, aqui não é o lugar. Não estou dizendo que ateísmo é melhor e que sua fé não vale nada. Estou só falando para os ateus não darem ouvidos a caras como vocês e perderem o medo do que as pessoas vão achar. E, na boa, não perca tempo discutindo religião com um ateu. Isso é a mesma coisa que discutir as melhores tonalidades de Wellaton com um careca.

Por Franjhunio

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um ato de delírio... um insano. Vários insanos... uma religião!


Deus: Uma ilusão – de Richard Dawkins

Meu filósofo contemporâneo preferido, Andre-Comte Sponville, disse em um de seus livros algo assim: Argumentativamente é impossível convencer um nazista que ele está errado, e se em certa altura há nazistas tudo que se pode fazer para combatê-los é recorrer a anti-nazistas. É praticamente certo que a religião permanece firme em nossa sociedade, e, pelo menos no meu círculo de conhecidos, é muito comum pessoas que se dizem católicas não-praticantes. Talvez por andar próximo a pessoas que eu considere compatíveis com o meu modo de pensar, não tenho amigos religiosos, talvez sejam ateus, mas não posso ter certeza.

Em meus poucos anos de vida aprendi diretamente na prática que discutir com pessoas religiosas não dá certo. Não funciona. Elas não têm uma mente própria para a dialética, a argumentação lógica e a busca pela verdade. Considero, com Dawkins, que a verdade em si não é absoluta, e que cada um tem sua verdade, ou cada um busca a verdade que lhe convém.

E se assim estamos de acordo, porque escrever um livro com mais de quatrocentas páginas só para ir contra o pensamento religioso? Lembremos agora o primeiro parágrafo, contra nazistas só podemos arrumar anti-nazistas. Igualmente nesse caso, contra religiosos fanáticos só podemos arrumar anti-religiosos.

O livro é estruturado para combater ativamente toda a forma de argumentação, que por si só é fraquíssima, do pensamento religioso. Por quê combater? Porque é justamente isso que os religiosos estão fazendo contra, eles estão atacando. E pra valer.

Não só li o livro de Dawkins como assisti pela Sky aos documentários The root of all Evil e The God who wasn´t there, respectivamente “A raíz de todos os males” e O “Deus que não estava lá”, em tradução livre aqui. Assim como antes de “Deus: Um delírio”, li “As origens da virtude” de Matt Riddley. Confesso que fiquei espantado com os documentários. O número de pessoas influenciadas pelo pensamento religioso nos EUA é enorme e não só mantém para si sua crença como acham que devem passar adiante, criar uma nação cristã, ortodoxa, ou protestante, seja lá como for, suas ações ultrapassam seus cultos. Chegando inclusive a interferir no currículo escolar ao lutar pela retirada do ensino da teoria da evolução de Darwin substituindo-a pelo criacionismo do design inteligente de Deus.

E nós que estamos aqui, quietos, começamos a ver esse movimento vir para cima de nós como um problema, dos sérios. Por isso chega a hora de levantar a bandeira e brigar de igual para igual. Pois perder terreno nessa questão não é apenas se reduzir espacialmente, mas dar a chance de uma nova época de trevas ressurgir.

O mais engraçado, e trágico, de tudo é ver como os religioso negam veementemente a teoria da evolução de Darwin que foi testada através do método científico, mas aceitam em seus lares a luz elétrica, dirigem carros, confiam nos celulares para se comunicar etc. O método é o mesmo que domina as várias cadeiras da pesquisa científica. Mas inexplicavelmente, e coincidentemente, certa teoria que bate diretamente com sua crença é negada.

Então o tom do livro é desafiador. Ele confronta, é uma batalha a ser vencida. Por isso acho que algumas pessoas não são apreciar o modo de escrita de Dawkins, que eu acho delicioso, nem sua construção argumentativa. Aqui ressalta-se que os argumentos que ele propõe não se fazem para provar nenhuma teoria, mas para demonstrar diretamente o que está acontecendo atualmente, é um relato desesperado, cheio de esperança, que mais e mais pessoas se juntem em sua perspectiva e se proclamem ateus, ou adeptos das ciências. Coisa que é totalmente maléfica se você é um estadunidense. Ateus confessos sofrem em suas carreiras, seus relacionamentos, são excluídos de suas famílias e entre tantas outras reações extremas que o pensamento religioso incita aos seus praticantes fazerem.

O livro é magnético para quem gosta de uma argumentação, ele destrincha cada pedacinho do pensamento religioso e nos põe cara-a-cara com uma realidade, feia até, que precisamos ver. Por exemplo, seu argumento de que crianças não devam ser educadas religiosamente. É louvável tanta lucidez, e por isso mesmo nos sentimos um tanto incomodados com sua escrita. Realmente é nos primeiros anos de vida que a criança estrutura seu mundo, sua maneira de pensar, fixa a maneira de seu cérebro construir a realidade que vivencia. E se nessa idade o pensamento religioso é incutido em sua mente, de formas mais variadas possíveis, e o ato de julgar, criticar e pensar por si só é desencorajado, isso trás danos inversíveis para sua formação.

Bem não quero aqui ficar comentando sobre os vários capítulos, dez ao todo, do livro e o que ele aborda em cada um deles, mas quero frisar que sua mensagem é dura, ao mesmo tempo carinhosa, e se um punho firme é necessário para nos acordar de nossa letargia, pelo menos aqueles que são capazes disso, aqueles que se inclinam sobre a verdade, os fatos, a lógica e a razão, devemos nos proteger desse movimento perigoso.

De acordo com a constituição americana, a brasileira também, o estado é laico. Para permitir qualquer tipo de crença. Qualquer tipo de crença se equivale, e diz respeito somente ao que crê. Mas se certa crença quer reivindicar o país para seus fins, isso só pode ser um retrocesso de centenas de anos em nosso processo liberal. Vemos como isso influencia diretamente nossas vidas, vide Bush e sua guerra religiosa contra o eixo do mal. Pensar em termos de bem e mal em política é pensar não absolutamente mas em toda a gama que as manobras garantem as mais diversas atitudes, se nos entregamos à ação pelo cunho religioso... algo está errado.

É vergonhoso ouvir em tempos atuais alguém falando que um ateu irá queimar no fogo do inferno, e se você, leitor, acha que isso é coisa do Talibã do Afeganistão, essa palavras saíram de pessoas religiosas dentro dos Estados Unidos da América. Pessoas tão focadas na palavra que pregam que esquecem de todo o resto, fazem vista grossa às evidências, fatos, à razão e ao pensamento livre. Não seria de muito estranho se ao tomar o poder esse tipo de pessoa proibisse o ensino de filosofia nas universidades, reduzisse pesquisas com a moral religiosa e começasse a caçar pessoas que não crêiam em sua verdade.

O livro não é motivo de atiçar ninguém a luta a priori, mas devido à realidade que vemos hoje em dia, ele é um alerta, de uma pessoa centrada, calma e pacífica, de que devemos nos preocupar com o que acontece à nossa volta. E nesse ponto o pensamento religioso é pernicioso, é ultrajante e imoral, pelo menos para nós que cremos na razão. Mas se ninguém têm razão definitiva, basta que nos coloquemos em pé de igualdade com o outro lado. Dawkins começou o movimento.
Por Franjhunio

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Petofilia


Depois de velho tive a primeira experiência com um animal de estimação. Tomei conta de um gato durante uma semana. Foi legal, mas ao mesmo tempo nunca tive a sensação de ter maltratado tanto um animal. E olha que, como qualquer criança normal, já dei tiro de chumbinho em passarinho, coloquei sal em sapo, joguei peixinhos dourados na privada e etc.

Por mais cruel e inconsequente que tenha sido quando criança, nenhuma destas dores físicas (e em alguns casos até morte) que provoquei nestas “criaturinhas divinas” se iguala a tortura emocional que acredito que este gato tenha passado em minha companhia. Ou melhor, em minha ausência.

Tinha um gato em casa, mas continuei a viver minha vida normalmente. Saía, ia trabalhar, resolver paradas na rua e etc. E, a cada vez que eu saía, o bicho ficava miando na porta com um ar de desespero. E, quando voltava, dava para perceber uma certa mágoa por ele ter sido abandonado. Não que eu acredite que um gato tenha inteligência a ponto de saber o significado de mágoa. Mas estava claro que ele periferia estar acompanhado do que estar sozinho.

E aí eu comecei a pensar em toda esta indústria que se formou em torno de animais de estimação, ou “pets”. “Pet” também significa “fazer um cafuné”. Ou seja, ter um “pet” pode ser interpretado como possuir um animal que sirva para ser acariciado. O conceito de “ter um animal” foi completamente subvertido pela nossa sociedade de consumo.

Há exceções, mas o “animal de estimação” virou um provedor de carícias e pequenos truques que existe 24 horas por dia, mas que só tem a companhia de seu dono durante umas 10 horas e a sua real atenção e contato por uns 30 minutos diários (sendo otimista). Quando vemos os casos (e trata-se da maioria) em que o “pet” existe unicamente para suprir uma carência ou ser “animal de companhia” (mas que fica a maior parte de sua existência sozinho), isso é petofilia.

Petofilia é mais cruel do que matar uma vaca para comer a sua carne. Vegetarianos que fazem manifestações contra os matadouros também deveriam se revoltar contra os petófilos. Escravizar emocionalmente uma criatura é mais reprovável do que usá-la fisicamente para suprir uma necessidade. Tirando os casos onde existem crueldade e maus tratos (e aí a reclamação dos militantes tem a sua razão), tomar uma marretada na cabeça e morrer não acaba com os sonhos de uma vaca e nem provoca dor em sua família. Ela simplesmente morre e vai pro prato.

Vou mais longe e digo que a petofilia deixa os animais mais “traumatizados” do que a zoofilia. Uma cabra que está no pasto e é usada sexualmente pelo fazendeiro continua seguindo a sua vida normalmente. Está lá, comendo sua grama, dando seus rolés… Um cachorro que existe para ser passeado durante a manhã, ficar horas e horas sozinho em um apartamento até o dono voltar do trabalho, receber 10 minutos de “festinha”, depois ser trocado pela TV, ir dormir e acordar de novo para viver toda essa rotina de novo… E ainda sofrendo a cada saída porque tem uma tenção de que o seu dono pode não voltar… Pense bem: que animal que está sendo mais explorado pelo ser humano? A cabra, estuprada fisicamente mas que nem se dá conta disso? Ou o cão, estuprado emocionalmente dia após dia, vivendo esta vida vazia em troca de alguns momentos de festa?

E não me venham com este papo de que “não sou capaz de entender o amor entre um pet e seu dono”. Não estou dizendo que você não ama o seu pet ou que ele não ama ser sua propriedade. Adoriaria ter um cão ou um gato, mas sinceramente acho injusto que uma criatura exista e leve a sua vida em função de um capricho meu.

O relacionamento petófilo é desigual. Como uma menina de 10 anos, um cachorro não consegue entender os termos de uma relação, decidir o que é melhor para o seu prazer ou ter a consciência de porque aquilo tudo está acontecendo. Por isso que fazer sexo com crianças é reprovável. E ter um “pet” também deveria ser. Todo relacionamento desigual é emocionalmente estressante para a parte fraca e extremamente cômodo para a parte forte. Você faz seu “pet” sofrer todos os dias e ele não pode te fazer sofrer de volta. Talvez só quando morrer. Aí você fica uns dias triste, mas logo passa. Você ainda pode (e provavelmente vai) comprar outro.

Franjhunio não é veterinário mas entende de animal

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Fetiches...


A mulher não precisa ser muito especial para atrair um homem que queira simplesmente liberar aquela rapaziada microscópica com rabinho que a gente não pára de produzir. Tanto que a maioria dos homens é adepto de ditados elucidativos como "Usou saia, não é escocês nem padre, to pegando", "Caiu na água fez tchibum, tô carcando" ou mesmo o esquisito "Mijou sentado, não é sapo, tô comendo". Mas há certos tipos de fêmeas que não são apenas bem-vindos na cama. São espécimes que mexem de maneira mais forte com o sexo masculino. As razões são muitas. Entenda por que você perde a cabeça ou até saliva ao ver determinadas mulheres:

A loura - Muita gente gosta de loura. Em cada parte do mundo há uma razão diferente. No Brasil, este fenômeno pode ser explicado por um raciocínio simples. Veja bem. Estamos num país latino, o¬nde as pessoas são predominantemente morenas, com cabelos negros ou castanhos. Assim, a maioria das mulheres louras, na verdade, tem o cabelo pintado. Se elas pintam o cabelo, é porque não estão satisfeitas com sua aparência original e querem mudar. Se mudaram, vão querer saber se sua nova aparência agradou e ficarão mais receptivas a demonstrações de aprovação. Por isso, o subconsciente masculino faz com que nos sintamos mais à vontade para dar aquele olhadão na rua ou até mesmo mandar aquelas cantadas geralmente ineficazes. Há ainda os homens que pensam que essa busca por aprovação da loura pode facilitar sua aproximação até o último estágio, ou seja, o sexo propriamente dito. Resumindo, tem muito homem que acha que loura quer mesmo é sacanagem, principalmente as de cabelo tingido.


A bibliotecária - Não precisa necessariamente ser uma bibliotecária. Aqui entram todas as mulheres que fazem o estilo sério, com óculos e cabelo preso. Esse espécime atrai os homens que acreditam que por baixo dos aros grossos, da presilha e dos botões bem comportados se esconde uma fêmea que espera a palavra certa, o olhar exato para se libertar e dar vazão a uma carga já insustentável de desejos reprimidos. Não sei de o¬nde surgiu essa idéia besta. Talvez do cinema, que costuma mostrar belas moças recatadas, que a certo momento da história se soltam e viram um mulherão de quem os homens quase não conseguem dar conta. Não dá para apostar muito nessa hipótese, mas faz certo sentido que uma mulher reprimida tenha um bom potencial na hora que chutar o balde.


A oriental - O interesse por japonesas, chinesas ou coreanas é capaz de sustentar páginas e páginas da internet que se dedicam exclusivamente a elas. Os motivos para as orientais despertarem o desejo do ocidente são muitos e podem parecer até absurdos. Uns vêem nas orientais o desconhecido, que sempre fascina. Outros, menos informados e sem a menor noção sobre anatomia, esperam conferir a lenda de que a vagina oriental é atravessada. Pois é, existe este mito. Dizem até que elas não podem brincar de descer deslizar pelo corrimão de uma escada, para não se machucarem. Besteira. Também baseados em boatos, talvez verdadeiros, há os que acham que poderão satisfazer melhor uma oriental, que está acostumada com os pênis diminutos de sua região de origem. Existem ainda os que relacionam as orientais às técnicas de prolongamento e potencialização de orgasmo. Mas a maioria dos aficionados pelas orientais se amarra mesmo é num peitinho. E no cabelo liso, nos olhos puxados, no corpo frágil, etc, etc.


A colegial - Ahhhhh, as colegiais. As colegiais, meu Deus. Bem, para começar, na sua mente sacana, a adolescente que usa uniforme escolar deve aprender as coisas e você pode ensinar o que ela realmente precisa saber da vida. Além do que, você se sente mais seguro com alguém que tem menos experiência que você. E aquela saia de pregas lhe faz lembrar que quando você estava na escola, suas colegas mais gostosas não estavam nem aí pra você e só se engraçavam com os caras mais velhos que tinham justamente a idade que você tem agora. E o mais importe, a colegial é também uma ninfeta. E não há nada melhor que seios ainda empinados, nádegas ainda firmes, a pele ainda lisa e o território ainda pouco explorado.



A ruiva - A tara pelas ruivas não é algo muito comum. Mas com certeza, quem já ficou com uma ruiva sempre acaba se gabando da façanha numa mesa de bar. Tudo por causa da raridade desse espécime. Se as chances de se conhecer uma ruiva verdadeira já são poucas, imagina então levar uma delas para a cama? Por isso a frase "Eu já comi uma ruiva" sempre é dita com orgulho. Como é difícil dizer "eu também", você acaba ficando meio frustrado e vai cultivando a vontade de também um dia se perder entre mechas rubras. Daí seus instintos ficarem tão aguçados na presença de uma ruiva. Sem contar que há sempre aquela curiosidade em saber qual a cor dos pêlos pubianos das ruivas.

Lésbicas - Essa é imbatível. Nunca conheci um homem que não soltasse um sorriso maroto ao saber que uma colega é lésbica ou simplesmente imaginar duas mulheres juntas na cama. É bom deixar claro que não estamos falando de sapatão, aquela mulher que acha que é homem, fala grosso, tem gestos brutos e até coça um saco imaginário. A lésbica interessante mantém sua feminilidade. A excitação causada pela imagem de dois corpos femininos se tocando é uma característica tão arraigada na condição masculina que fica impossível determinar uma razão. Há apenas especulações sobre o assunto. Alguns mais sensíveis vêem uma beleza plástica no ato, que não deixa nada a dever às obras mais famosas dos maiores mestres da pintura de todos os tempos. Outros se fascinam com o processo, tentando descobrir em que ponto aquilo já pode ser chamado de sexo, já que não há penetração (será que começa no beijo ou no toque nos seios? Quando é preliminar e quando já acabou?). Mas os homens querem mesmo é se juntar àquelas duas moças ali, convencidos de que a festa só vai estar completa quando eles estiverem no meio da coisa, já que elas devem estar sentindo falta de um elemento mais sólido na relação.

A amiga - Há quem não acredite que mulheres e homens possam ser amigos. Mas é possível, sim. O único problema é que se perguntarem para a mulher se ela iria para a cama como o cara ela vai dizer "Claro que não. Ele é meu amigo", enquanto o homem vai dizer "É claro, sou homem". A vontade de traçar sua amiga muitas vezes vêm do fato de ela despejar sobre você confidências sexuais, como se você não fosse ficar pensando naquilo depois. É inevitável desenvolver o raciocínio "se ela dá praquele babaca, por que não dar pra mim, que sou amigo?". E você fica achando que mandaria muito bem no caso de isso se realizar, já que sabe do que ela gosta e do que não gosta.

A namorada do amigo - Querer pegar a namorada do amigo é uma coisa muito freqüente. Primeiro, porque é proibido. O proibido é sempre atraente. Segundo, porque é arriscado (seu amigo pode descobrir e vai dar a maior merda). O risco costuma ser um bom tempero pra essas coisas. E você também fica com uma carta na manga caso seu amigo um dia vacile contigo e te sacaneie feio. Aí é só soltar "Pois fique sabendo que eu já comi a Jussara. E ela me achava melhor que você, seu babaca".

Franjhunio

Dicas Importantes para o Universo Masculino


Não adianta você ser um namorado, noivo ou marido fiel, honesto, sensível e trabalhador. Sua namorada, noiva ou esposa vai sempre querer que você seja também um cara que não repare em nenhuma outra mulher. Ela não vai entender que mesmo que você esteja disposto a não pegar mais nenhuma garota que não ela, ainda está programado biologicamente para querer cruzar com outras milhares de mulheres. Não importa a ela que seu corpo reaja involuntariamente ao cheiro e à visão de outra fêmea, nem que você continue produzindo espermatozóides suficientes para inseminar toda a população feminina do planeta. Sua mulher vai achar que você não pode nem olhar para outra, mesmo que em revistas masculinas (e se bobear, nem a capa da Marie Claire você pode olhar por mais de cinco segundos). Para preservar sua relação com essa moça a quem você, num grande ato de renúncia aos instintos, resolveu prometer ser fiel, é preciso aprender alguns truques e continuar em paz com sua mente masculina.

Quando você estiver caminhando com ela pela rua e passar uma daquelas mulheres que são impossíveis de ignorar e você perceber que não vai resistir e acabará virando o pescoço para contemplar aquelas formas, não tema. Chegue para sua companhia e diga: “Amor, veja que roupa legal que aquela moça está usando! Você gostaria de uma igual?”. Com isso, ela vai olhar para a tal fêmea e nem vai se tocar para o fato de você estar descaradamente varrendo seu corpo com os olhos. E sua namorada ainda vai achar você tem planos de comprar-lhe uma roupa nova. Se for o caso, até compre.

Se um dia você for flagrado com uma Playboy na mochila ou dando bobeira na gaveta, fale imediatamente que está lendo a entrevista ou alguma reportagem especial da edição. Esse truque é usado há anos e passado de pais para filhos geração após geração. E para manter a revista contigo, jamais se refira a ela como “a Playboy da Juliana Paes” e sim como “Aquela Playboy que tem a matéria com os 100 melhores discos de rock”. No caso de você comprar uma revista antiga, como a Playboy da Andrea Veiga ou da Kátia Maranhão, por exemplo, vá logo mostrando a revista rindo bastante e dizendo que foi pelo saudosismo da época e a convide, inclusive, para ver junto contigo. Depois você poderá ver várias vezes sozinho, que é como deve ser apreciada uma revista desse tipo.

No caso dos sites pornográficos o melhor é apagar todos as pegadas sujas que você deixou no computador. Para isso, vá em “ferramentas/opções da internet/geral” e clique em “excluir arquivos” e “limpar histórico”, além de apagar os últimos registros em “temporary internet files”. Mas se você cometer um descuido nessa tarefa ou for flagrado navegando alegremente por sites com conteúdo impróprio e sua mulher perguntar o que você estava fazendo em “sites de sacanagem”, repreenda-a com vigor: “Sites de sacanagem, não! São sites de pessoas fazendo amor!”. Isso pode deixá-la aturdida de início, pois ela nunca pensou sobre esses sites com essa perspectiva. Em seguida, seja rápido e fale algo como “Eu estava tentando aprender novas posições para nós. Para lhe dar mais prazer”. Se ela não for do tipo sensível e romântico, diga que estava fiscalizando esses sites para ver se nenhum deles apresentava fotos de pedofilia, pois você está disposto a fazer denúncias depois que viu uma enojante reportagem sobre o assunto. Pode colar.

Outra boa medida é não se lembrar do nome de suas colegas de trabalho, muito menos de estagiárias. Se você estiver na faculdade, não lembre o nome de calouras. Assim, quando for contar alguma coisa que aconteceu no seu dia, não use o nome dessas meninas, pois sua namorada ou esposa pode achar estranho você não guardar os nomes das tias dela mas saber nome e sobrenome de mocinhas que acabaram de chegar ao seu trabalho ou à universidade. E quando for a vez de sua mulher contar algum caso envolvendo uma amiga dela, jamais pergunte algo como “A Jussara é aquela morena de seios médios e firmes, com lábios carnudos?”. Tente se lembrar de algum comentário negativo que ela já tenha feito e reformule cuidadosamente a frase em sua mente: “A Jussara é aquela que reclama de celulite e nunca consegue firmar namoro com ninguém, né?”. É por aí.

Franjhunio

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Mulheres


Nas últimas décadas as mulheres conseguiram inegáveis conquistas sociais e econômicas, deixando para trás o papel de subserviência ao homem. Hoje, pelo menos nas sociedades mais desenvolvidas, elas são donas de seus narizes e determinam o destino de suas próprias vidas sem ter que se preocupar com a aprovação de homem nenhum.
Mas alto lá, companheiros de classe! Não é preciso se preocupar. Apesar de alguns estudos que as apontam como mais organizadas e eficientes para as tarefas de comando, um mundo gerenciado pelas mulheres dificilmente vai existir. Elas podem não ser mais controladas por nós, mas as suas mentes se tornaram reféns de algo muito mais eficiente: o Vagisil.

Explico cientificamente, até concluir com o exemplo do poder exercido por este mero produto de higiene íntima.

Já é senso comum de que a mente masculina e a mente feminina funcionam de um modo diferente. Sem piadinhas de “mais ou menos neurônios”. A capacidade intelectual é a mesma, mas enquanto o cérebro masculino é programado para processar melhor as informações em um “nível macro,” o cérebro feminino dedica uma atenção muito maior os detalhes, ou ao “nível micro”. Enquanto um homem persegue seus objetivos como uma ação contínua e única, as mulheres enxergam este mesmo caminho como uma série de pequenas tarefas paralelas. Daí vem a melhor capacidade organizacional feminina. Conseguir fazer várias coisas ao mesmo tempo é o forte delas. Ser um trator focado em um objetivo geral é o nosso.

Mas desta atenção aos detalhes também vem o maior ponto fraco das mulheres. Elas simplesmente não conseguem parar de processar as novas informações fornecidas. Então, quanto mais detalhes forem dados para elas se preocuparem, mais a sua carga “multi-tarefa” se sobrecarrega. Até que em determinado momento todo o sistema entra em colapso. Daí elas têm uma crise de choro e ligam para o seu macho (ou apelam para um pote de sorvete, na ausência de uma pica). Um orgasmo (ou pote de sorvete) é o tipo de coisa que “reseta” o cérebro feminino e as faz voltar ao normal. Da mesma maneira que reiniciamos o Windows quando o computador fica lento porque rodou vários programas ao mesmo tempo.

Sabendo que não somos mais capazes de subjugar as mulheres diretamente, começamos a explorar esta fraqueza. Conforme elas foram sendo liberadas do cárcere doméstico, queimando sutiãs, ganhando direito a voto e conquistando mais espaço no mercado de trabalho, fomos paralelamente inventando detalhes sem importância para sobrecarregar as suas mentes e desviá-las do foco principal que seria nos destituir do comando. Pense bem. No passado existia moda? Aquecimento global? Calorias? Pesquise bem e veja que, apesar de interessarem exclusivamente as mentes femininas, estas e uma série de outras invenções inúteis são obras masculinas. Os homens inventaram, mas nenhum se preocupa de fato com essas coisas. Todas elas têm o claro objetivo de sobrecarregar o cérebro feminino (como aqueles vários softwares inúteis que vamos instalando no nosso computador).

O exemplo mais evidente disso é o Vagisil. Foi um homem que inventou essa necessidade súbita das mulheres se preocuparem com o seu frescor íntimo. Alguém se preocupava com “frescor íntimo” há 10 anos atrás? Já imagino até como deve ter acontecido... Deve ter sido por volta de 1991, em algum laboratório da Alemanha. Um químico deve ter começado a se sentir ameaçado pelas suas subordinadas, muito mais competentes que ele. Em meio a uma bebedeira ele teve uma revelação - “Já sei, vou iniciar uma pesquisa sobre o pH da mucosa vaginal!” - Pesquisa concluída e o cara consegue comprovar que sabonetes normais, que são alcalinos, podem comprometer a acidez da vagina, o que é essencial para prevenir infecções. Ele cria então um sabonete com alcalinidade mais suave e bingo! As suas subordinadas passam a ter que medir seus respectivos pHs de hora em hora, tendo mais um assunto completamente supérfluo para se preocupar.

Mal sabem elas que um homem é completamente incapaz de avaliar o pH de uma vagina (a menos que você esteja transando com um sommelier). O homem médio erra o pH absurdamente. “Gosto de bacalhau” é o consenso da galera. Porra nenhuma! O pH do bacalhau deve ser mais ou menos 8 (um pouco alcalino, como a água do mar). Já o pH de uma vagina é 4 (similar ao de um suco de laranja). Erramos quase 30% da escala, que vai de 0 a 14. Nós não sabemos diferenciar o gosto do suco de laranja e de um bacalhau, mas mesmo assim conseguimos fazer elas se preocuparem com isso.

Moças, não tem jeito. A sociedade democrática baseada na livre iniciativa foi feita para manter as fêmeas sob controle. Se por um lado vocês foram liberadas, por outro ficaram ainda mais fáceis de controlar. Sem frustração, sem rebeldia, sem violência... Um machismo esclarecido, nada mais do que uma adaptação do despotismo esclarecido.

Enquanto pudermos criar milhões de escolhas e diversificar os detalhes, vocês ainda serão nossas reféns. Mal sabia Marx que no fundo de suas boas intenções ele estava condenando a supremacia masculina e jogando contra o seu próprio time. Felizmente para nós homens o fantasma de uma sociedade totalitária, de economia controlada e escolhas limitadas, foi eliminada com a queda dos comunistas. A onda vermelha não demoraria muito para se tornar rosa.

Franjhunio

*PS
Só um pequeno detalhe: a escala do potencial hidrogeniônico (pH), assim como a do potencial hidroxiliônico (pOH) varia de 1 a 14 (10^-1 mol/L, até 10^-14 mol/L) e não de 0 a 14. Não existe pH ou pOH 0.

domingo, 25 de janeiro de 2009


Além do Zimbábue e do Lesoto, existem outros países inúteis que estão no mapa só para fazer com que as editoras gastem mais tinta na hora de fazer um atlas. A América do Sul é um exemplo claro disso. Portanto, chegou o momento do Brasil sair por aí, anexando os nossos vizinhos sul-americanos pra ver se neguinho começa a respeitar a gente. E nós só lucraríamos com isso. Vejamos:
* Se anexássemos a Argentina, de cara já ganharíamos dois campeonatos mundiais e estaríamos na perspectiva de mais um, já que a Seleção deles é melhor do que a nossa. Além disso, teríamos estações de esqui e poderíamos passear na Patagônia pagando em reais. Mas o principal, o melhor de tudo, é que não existiriam mais argentinos…

* E o Uruguai? Bom, na verdade, ele seria reanexado ao Brasil. E, assim como a Argentina, acumularíamos mais dois títulos mundiais, atingindo o invejável e inalcançável octacampeonato!!! O único problema é que os comungas teriam que arrumar outro país pra fugir quando nossos milicos resolvessem dá outro golpe...

* Com a anexação do Paraguai acabaríamos de uma vez por todas com o contrabando. Todas aquelas tranqueiras e quinquilharias seriam brasileiras, evitando o transtorno dos sacoleiros tupiniquins na Ponte da Amizade. Em compensação, seríamos reconhecidos como os produtores do pior uísque do mundo...

* Chile, Peru e Equador garantiriam nossa saída para o Oceano Pacífico. Além disso, alguns pontos turísticos seriam "nacionalizados" como Macchu Picchu e a Ilha da Páscoa. Para completar, não precisaríamos importar os vinhos do Chile como Santa Helena e Tarapacá. E o negócio seria bom pra eles também: o território chileno ficaria muito maior e eles deixariam de ser conhecidos como o Marco Maciel da América do Sul. Seria necessário, porém, um plebiscito para que o nome do Peru fosse trocado, evitando assim qualquer tipo de trocadilho infame quando a região estivesse em evidência. Quanto ao Equador... Bom, o Equador é troco, né... Mas ele seria anexado já com o seu novo nome: Piauí do Oeste...

* A Venezuela é um lugar cujo futebol é o quinto na preferência do povo. Portanto, um país como esse não merece existir. Assim, também deve ser anexado. Lá tem petróleo, os caras são membros da OPEP. Com isso, poderíamos influenciar no preço do "preto que satisfaz"... Fora isso, pode separar a sua sunga de banho e uma cervejinha porque a Venezuela tem praias maravilhosas e pra completar fica perto de Aruba e Curaçao... Ou seja, uma maravilha...

* A Colômbia anexada resolveria um sério problema brasileiro: a soberania da Amazônia. Assim, os traficantes e os guerrilheiros das Farc não invadiriam o nosso território, pois já estariam nele...

* Guiana, Guiana Francesa e Suriname a gente poderia transformar em colônias do Amapá, em campo de pouso de disco-voador, em galinheiro... Quando nada, poderíamos transformar em estacionamento mesmo... Ah, e poderíamos mandar todo o pessoal do DEMO pra lá...

As idéias estão lançadas. Sigam-me os que forem brasileiros e foda-se a soberania dos povos!!!

Franjhunio

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os Horrores da Bíblia - Parte I


Para quem gosta de histórias de horror, a Bíblia é um prato cheio. Escondido no meio de milhares de versículos podemos topar com cenas de arrepiar os cabelos.
Em Gênesis, por exemplo, encontramos um episódio, no mínimo, bizarro. Como todos sabem, Abraão foi o patriarca dos Hebreus. Com seu pai, sua mulher e seu sobrinho Ló, Abraão saiu da cidade de Ur, no baixo Eufrates. Encaminharam-se para Harrã, nas cabeceiras do mesmo rio, uma cidade santa dedicada ao culto de Sin, o deus-lua, o mais importante do panteão sumeriano. Depois, Ló se separou de Abraão e foi morar em Sodoma, a cidade do pecado.

Conta a Bíblia que, certa vez, Ló hospedou dois anjos em sua casa. À noite, alguns homens de Somorra bateram à porta de Ló e disseram-lhe que sabiam que ele tinha dois hóspedes e que eles, os homens de Sodoma, queriam ter relações sexuais com os visitantes. Quem duvidar que confira: Gênesis 19.

Ló ficou apavorado. Para acalmar os tarados, disse que tinha duas filhas virgens e que as daria para os homens, a fim de poupar seus hóspedes. Poderiam fazer o que quisessem com suas filhas.

Os homens de Sodoma não aceitaram a proposta e invadiram a casa. Então, os anjos cegaram os homens e mandaram Ló fugir de Sodoma, que seria destruída por Deus.

Os horrores continuam. Depois que fugiram de Sodoma, as filhas de Ló disfarçaram-se de prostitutas, embebedaram o pai com vinho e tiveram relações sexuais com ele, a fim de “preservar sua raça”. Das relações incestuosas nasceram Moab e Amon, patriarcas dos moabitas e dos amonitas, tribos árabes vizinhas de Israel.

Antes deste espetáculo grotesco, encontramos outra cena curiosa. O Deus bíblico de então, que ainda não tinha revelado seu nome aos hebreus (Jeová), disse a Abraão que iria destruir Sodoma. Assustado com a ameaça divina, Abraão pergunta a Deus o que faria se houvesse em Sodoma cinqüenta homens de bem. Deus disse que não destruiria a cidade, em respeito aos cinqüenta homens de bem. Abraão anima-se e começa a pechinchar com Deus. Pergunta o que Deus faria se houvesse apenas quarenta e cinco homens de bem. Deus atende à pechincha e diz que pouparia a cidade. Depois Abraão baixa para quarenta, e Deus concorda. No fim, Deus concorda em não destruir a cidade se encontrasse apenas dez homens de bem.

O que é assustador nesta conversa é a noção antropomórfica do Deus do Antigo Testamento. O Deus dos primeiros capítulos da Bíblia, embora seja todo-poderoso, criador dos céus e da terra, é uma figura humana, com pernas e braços, cabeça, e certamente uma respeitável barba. Possivelmente tem uma esposa e até uma residência que, de acordo com o velho testamento, é o Templo de Salomão, que, aliás, foi destruído por Tito Flávio Vesásiano há quase dois milênios.

Em outro local, depois que Adão e Eva cometeram o pecado original, sentem vergonha de Deus. Quando pressentem que Deus se aproxima, escondem-se dele atrás de um arbusto. Diz o texto sagrado que Deus estava aproveitando “a fresca da manhã”.

Este é o livro mais vendido no mundo, e o mais respeitado. Consta que foi escrito sob inspiração divina, como se o próprio Deus o tivesse escrito. Ele é tão respeitado que, em alguns tribunais, as pessoas fazem juramento com as mãos sobre a Bíblia. A explicação é simples. Embora a Bíblia seja livro mais vendido de todos os tempos, é também o menos lido.
Franjhunio

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A Morte como Plenitude do Ser



“Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se espavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muito barulho, que nada significa.”
Macbeth, Ato 5, Cena 5, linhas 22-31 - William Shakespeare

Na escala do tempo da história da Terra a vida de um ser humano é um mero piscar de olhos. Nascemos, vivemos e morremos – e então não mais somos “lembrados”. A morte é como um sono sem sonhos do qual nunca acordamos, nossa consciência suprimida para sempre. Se esta vida é tudo o que se apresenta, qual é o seu sentido? Se estamos todos fadados a morrer de qualquer forma, que diferença faz o que fazemos nossas vidas? Podemos influenciar as vidas de outras pessoas, mas elas também estão condenadas à morte. Em algumas poucas gerações a maioria de nossas realizações será totalmente esquecida, a memória de nossas vidas reduzidas a um mero nome entalhado numa lápide ou escrito numa árvore genealógica. Em alguns séculos até nossas tumbas se tornarão ilegíveis pela ação do tempo, restos de ossos serão tudo o que restará de nós. Exceto pela fossilização, até estes ossos serão desintegrados e nada de nós restará. Tudo de que fomos feitos será absorvido por outros organismos – plantas, animais, e até outros seres humanos. Novas espécies aparecerão, florescerão e desaparecerão, rapidamente substituídas por outras que preencherão o nicho deixado pela sua extinção. A humanidade também sucumbirá à extinção. Toda a vida na terra será varrida quando nosso sol moribundo tornar-se uma gigante vermelha, engolindo então a Terra. Finalmente, o universo tornar-se-á incapaz de permitir a existência de qualquer tipo de vida devido à sua eterna expansão, deixando apenas calor residual e buracos negros, ou senão se contrairá novamente unindo toda a matéria e energia num único Grande Buraco Negro. De qualquer forma, toda a vida no universo desaparecerá para sempre.


Essas considerações uma vez levaram Bertrand Russell a concluir que qualquer filosofia da qual valesse a pena falar seriamente teria de se fundamentar numa “fundação firme de incontrolável desespero”. A morte torna a vida sem sentido? Apesar de muitas pessoas acharem que sim, um momento de reflexão irá mostrar que a morte é irrelevante para a questão do sentido da vida: se os seres humanos fossem naturalmente imortais – isto é, se não houvesse nada parecido com a morte – ainda assim a questão sobre o sentido da vida persistiria. A afirmação de que a vida é sem sentido porque termina em morte relaciona-se com a afirmação de que tudo o que tem sentido precisa durar para sempre. O fato de muitas das coisas às quais damos valor (como o relacionamento com outras pessoas) e atividades que achamos valiosas (como trabalhar numa campanha política do PT) não durarem para sempre mostra que a vida não precisa ser eterna para ter sentido. Podemos mostrar também que a vida não precisa durar para sempre para ter algum sentido através de exemplos de vidas que duram para sempre e são inúteis. Na mitologia grega Sísifo é punido pelos deuses por ter dado conhecimento divino aos humanos. Sua punição é ser forçado a rolar uma enorme pedra até o topo de uma montanha. Assim que a pedra chega ao topo, ela é rolada novamente até a base da montanha. Sísifo está condenado a repetir esta tarefa inútil por toda a eternidade. A duração de nossas vidas nada tem a ver com elas terem ou não sentido. É irônico que tantas pessoas não tenham atentado para este ponto já que a punição eterna contida em O Mito de Sísifo de Albert Camus é o arquétipo da existência inútil.


A morte aparenta significar a falta de sentido da vida para muitas pessoas porque elas sentem que não há motivo em desenvolver o caráter ou aumentar o próprio conhecimento se nossos progressos serão em última instância tomados pela morte. Entretanto, há um motivo para desenvolver o caráter e desenvolver o conhecimento antes da morte nos alcançar: dar paz e satisfação intelectual às nossas vidas e às vidas daqueles com quem nós nos importamos, porque perseguir estes objetivos enriquece nossas vidas. Partir do fato de que a morte é inevitável não implica dizermos que tudo o que fazemos não faz diferença. Pelo contrário, nossas vidas têm grande importância para nós. Se elas não tivessem, não acharíamos a idéia de nossa morte tão desesperadora – não faria diferença se nossas vidas iriam acabar ou não. O fato de irmos todos morrer algum dia não tem correlação com a questão de nossas atividades valerem ou não a pena aqui e agora: para um paciente doente num hospital os esforços de um médico em aliviar sua dor certamente importam, independentemente do fato de tanto o paciente quanto o médico (e em última análise todo o universo) acabarão morrendo algum dia.

Mas o que faz com que tantas pessoas sintam que suas vidas, em última análise, são inúteis? O fato de que todos nós um dia iremos morrer é uma razão para este sentimento, mas não é a única. A outra razão para que tantas pessoas sintam que a vida não tem sentido é que, até onde a ciência pode mostrar, não há nenhum propósito maior para nossas vidas. Uma visão científica do mundo retrata a origem dos seres humanos como “o resultado da colocação acidental de átomos”. Tanto individual quanto coletivamente, seres humanos vieram a existir devido a probabilidades. Como indivíduos, nossa existência foi possível devido ao sucesso reprodutivo de nossos ancestrais; como espécie, nossa existência foi determinada pelas mutações que acabaram por conferir uma vantagem adaptativa a nossos ancestrais evolutivos no ambiente em que se encontravam. Devido ao fato de não podermos discernir qualquer indicação de que fomos postos neste planeta para servir a um propósito dado a nós por um ser inteligente, nossa existência não parece fazer parte de nenhum plano maior. Se a ausência de um propósito maior é o que faz a vida ser em última instância sem sentido, nossas vidas seriam igualmente inúteis se fossem eternas. Da mesma forma, se fazer parte de um propósito maior desse às nossas vidas um sentido, então nossas vidas teriam sentido mesmo se a morte acabasse com elas para sempre.
Será realmente o caso, entretanto, que a ausência de um plano maior para nossas vidas tornaria a vida sem sentido? Aqui, também, um momento de reflexão mostrará que a falta de um propósito maior na vida é irrelevante para o seu sentido. Como um propósito maior para nossas vidas lhes daria um sentido? Suponha, por exemplo, que venhamos a descobrir que milhões de anos atrás extraterrestres manipularam geneticamente os hominídeos para produzir uma espécie mais inteligente, adequada para suas necessidades de trabalho escravo e estes extraterrestres ainda não voltaram a Terra para nos escravizar. Neste caso, nossa existência seria parte de um plano maior e daria um sentido às nossas vidas para os extraterrestres, mas isto não daria sentido a elas para nós. Sermos parte de um plano divino pode apenas dar sentido a nossas vidas se aceitarmos nosso papel no tal plano como importante para nós. Além disso, enquanto formos ignorantes a respeito de num suposto plano maior para nossas vidas – e certamente somos ignorantes a esse respeito –, não temos como saber qual é o nosso papel neste plano e, portanto, ele não é capaz de fazer nossa vida ter sentido. Nossas atividades são válidas por elas mesmas, e não porque atendem a algum propósito transcendental desconhecido.


Estas considerações mostram que nós devemos criar nosso próprio sentido para nossas vidas, independentemente de essas vidas servirem ou não a um propósito maior. Se nossas vidas têm ou não sentido para nós depende de como as julgamos. A ausência ou presença de algum propósito superior é tão irrelevante quanto à finalidade da morte. A alegação de que nossas vidas são “em última análise” inúteis não faz sentido porque elas teriam ou não sentido independentemente do que fizéssemos. Questões sobre o sentido da vida são questões sobre valores. Nós atribuímos valores para coisas na vida em vez de descobri-los. Não pode haver sentido na vida senão aquele que criamos para nós mesmos, pois o universo não é um ser consciente que pode atribuir valores para as coisas. Mesmo se um deus consciente existisse, o valor que ele atribuiria às nossas vidas não seria o mesmo que nós atribuiríamos e, portanto, seria irrelevante.

O que faz nossas vidas terem sentido é acharmos que as atividades que fazemos valem à pena (mesmo que não valha nada). Nossa determinação para levar adiante projetos que criamos para nós mesmos dá sentido às nossas vidas (mesmo que os outros não dêem valor). Sentimos que a vida é inútil quando a maior parte dos desejos que julgamos importantes é frustrada (mesmo que outros acham que aquilo foi melhor para você). Achar nossa vida importante ou não depende de quais objetivos importantes são frustrados. O julgamento que fazemos de nossas vidas nestes pontos é igualmente independente de a vida ser ou não eterna ou de ela fazer ou não parte de um propósito maior. Talvez o segredo de uma vida com sentido seja dar importância a aqueles objetivos que podemos atingir e minimizar aqueles que não podemos – desde que saibamos a diferença entre eles.

Franjhunio

domingo, 4 de janeiro de 2009

A vida continua


Pois é! Mais um ano se inicia e com ele, como de praxe, parece ter vivificado mais uma perspectiva de dias melhores, mesmo num mundo que teima em não ruir em face da recessão mundial, um otimismo de merda, barato, sem amparo nem fundamento, que se alimenta do tradicionalismo babaca e de um sentimentalismo néscio, sub-produto do 13º salário. Realmente, há de se ter muito estômago nestes primeiros dias do ano, p.e., hoje, logo cedo, quando saí de casa, um vizinho desavisado veio me desejar um feliz ano novo e tal... eu respirei fundo e mudei de assunto e começamos a dialogar. Eu nem precisei demorar muito tempo para perceber que aquele desejo ardente de dias melhores, não passava de uma angustiante torcida para que sua vida mudasse da água para o vinho, num toque de mágica sob a égide do mínimo esforço. Como se um novo big bang viesse transformar nossas vidas. Assim caminha a humanidade: fazendo planos sem agir em conformidade com os anseios. Deve ser igual à prostituta arrependida que a cada programa, diz ser este o último, até que a necessidade bate-lhe a porta e ela se vende de novo e mais porcamente. Eu particularmente não sou de fazer planos. Também, não sou dado a conseguir realizar os meus intentos a longo e médio prazo. Na minha vida tudo foi de imediato. Não adianta prognosticar. Isso pode ser um defeito. Mas, nunca cogitei ser perfeito. E por momento, isso me basta. Prefiro viver igual ao curso do rio. Tranqüilo e perene. E quando subitamente qualquer impercílio atrapalhar o curso natural, simplesmente mudar o transcurso ou mais simplesmente ainda, contornar o obstáculo para voltar à mesma trajetória. Prefiro isso que a frustração do tentar, tentar e tentar... sem nunca consegui. Não quero defender com isso um certo ar fatalista, longe de mim. Chamo isso de meu jeito cético de ser. Prefiro conclamar um pessimismo latente a um otimismo inócuo. É por isso que para 2009 espero tudo de ruim. A natureza humana, por si só já é malévola, por que eu, ainda assim, haveria de esperar coisas boas? Na história do homem o bem e do mal sempre guerrearam. O bem somente prevaleceu nos casos onde os envolvidos transcendiam a um extramundo para justificar a razão das boas ações e detrimento às más. E estes invariavelmente sofriam como mártires que anteviam uma bem aventurança em troca da ação antinatural de praticar o bem. Pois, até hoje, praticar o bem é agir contra a natureza. Ora pois, se o caráter do bem não faz parte da natureza humana em sua gênese e se para até mesmo justificar a prática do bem os homens tiveram que inventar um ou vários deus(es), que depois foram, em algumas tradições, cruelmente morto(s) pelo próprio homem, por que eu, demasiado humano, haveria de esperar algo de bom de 2009 só por causa do reveillon? Prefiro aguardar o mal, e se o bem vier, receberei ativamente, aproveita-me do meu espírito imediatista, tirando pleno proveito do que pertinentemente for. Mas, por favor, não quero mais ouvir essa baboseira de feliz ano novo, que 2009 seja repleto disso e daquilo... Pois se depender dessas felicitações, por melhores que sejam, eu vou tá mais é fudido. E a vida continua...

Fjunior