Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: A vida continua

domingo, 4 de janeiro de 2009

A vida continua


Pois é! Mais um ano se inicia e com ele, como de praxe, parece ter vivificado mais uma perspectiva de dias melhores, mesmo num mundo que teima em não ruir em face da recessão mundial, um otimismo de merda, barato, sem amparo nem fundamento, que se alimenta do tradicionalismo babaca e de um sentimentalismo néscio, sub-produto do 13º salário. Realmente, há de se ter muito estômago nestes primeiros dias do ano, p.e., hoje, logo cedo, quando saí de casa, um vizinho desavisado veio me desejar um feliz ano novo e tal... eu respirei fundo e mudei de assunto e começamos a dialogar. Eu nem precisei demorar muito tempo para perceber que aquele desejo ardente de dias melhores, não passava de uma angustiante torcida para que sua vida mudasse da água para o vinho, num toque de mágica sob a égide do mínimo esforço. Como se um novo big bang viesse transformar nossas vidas. Assim caminha a humanidade: fazendo planos sem agir em conformidade com os anseios. Deve ser igual à prostituta arrependida que a cada programa, diz ser este o último, até que a necessidade bate-lhe a porta e ela se vende de novo e mais porcamente. Eu particularmente não sou de fazer planos. Também, não sou dado a conseguir realizar os meus intentos a longo e médio prazo. Na minha vida tudo foi de imediato. Não adianta prognosticar. Isso pode ser um defeito. Mas, nunca cogitei ser perfeito. E por momento, isso me basta. Prefiro viver igual ao curso do rio. Tranqüilo e perene. E quando subitamente qualquer impercílio atrapalhar o curso natural, simplesmente mudar o transcurso ou mais simplesmente ainda, contornar o obstáculo para voltar à mesma trajetória. Prefiro isso que a frustração do tentar, tentar e tentar... sem nunca consegui. Não quero defender com isso um certo ar fatalista, longe de mim. Chamo isso de meu jeito cético de ser. Prefiro conclamar um pessimismo latente a um otimismo inócuo. É por isso que para 2009 espero tudo de ruim. A natureza humana, por si só já é malévola, por que eu, ainda assim, haveria de esperar coisas boas? Na história do homem o bem e do mal sempre guerrearam. O bem somente prevaleceu nos casos onde os envolvidos transcendiam a um extramundo para justificar a razão das boas ações e detrimento às más. E estes invariavelmente sofriam como mártires que anteviam uma bem aventurança em troca da ação antinatural de praticar o bem. Pois, até hoje, praticar o bem é agir contra a natureza. Ora pois, se o caráter do bem não faz parte da natureza humana em sua gênese e se para até mesmo justificar a prática do bem os homens tiveram que inventar um ou vários deus(es), que depois foram, em algumas tradições, cruelmente morto(s) pelo próprio homem, por que eu, demasiado humano, haveria de esperar algo de bom de 2009 só por causa do reveillon? Prefiro aguardar o mal, e se o bem vier, receberei ativamente, aproveita-me do meu espírito imediatista, tirando pleno proveito do que pertinentemente for. Mas, por favor, não quero mais ouvir essa baboseira de feliz ano novo, que 2009 seja repleto disso e daquilo... Pois se depender dessas felicitações, por melhores que sejam, eu vou tá mais é fudido. E a vida continua...

Fjunior

Um comentário:

Anônimo disse...

Hum... é... feliz ano novo, tá? E vê se escreve mais nesse blog! rsrsrsrsrs