Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: Acho que sou racista

sábado, 1 de março de 2008

Acho que sou racista


Estou me sentindo sujo, o mais desprezível dos seres humanos. Descobri que sou um racista. Mas antes de me enquadrarem na famosa Lei nº 7.716/89, explico que o meu preconceito racial não tem nada a ver com origem ou cor de pele da pessoa humana. Trata-se de algo que, no fundo, acaba resgatando mais explicitamente o sentido desta palavra. Relatarei-vos-ei o episódio que me fez cair na real e diagnosticar esta vergonhosa faceta da minha personalidade:

Recentemente fui abordado por um grande amigo, cuja felicidade no rosto deixava claro que trazia boas notícias. Ele me contou que sua cadela tinha acabado de parir. Nove filhotes. Preocupado com tantas bocas para alimentar em um futuro próximo e sabendo que sou um cara que aprecia a companhia canina, ele logo tratou de me oferecer um. Imediatamente manifestei meu interesse, mas para confirmar fiz uma pergunta essencial: “Vem cá, mas qual das suas cadelas teve filhotes? A labradora ou a vira-lata?”

O preconceito racial se escondia justamente aí, nesta pergunta aparentemente inocente. Eu tinha uma clara preferência pelos filhotes de labrador. Já os da pobre vira-lata não me interessavam. Me dei conta de que estava diminuindo a raça mestiça em prol de uma raça pura. Me senti um nazista.

Passei a relembrar outros pontos de meu comportamento e vi que as raízes do problema eram muito mais profundas. Notei que também tenho um imenso preconceito racial com pit-bulls e similares. Quando vejo um caminhando em minha direção, logo fico apreensivo, protejo discretamente as minhas “jóias de família” e, quando posso, troco até o lado da calçada. Tudo baseado em histórias que ouço falar, mas nunca vivenciei. Ele pode ser até um bom pit-bull, trabalhador, pai de família... mas meu preconceito faz com que aquele ser diferente do padrão que estou acostumado a conviver seja considerado uma ameaça. Para falar a verdade, a única vez que fui mordido na vida, foi por um cão extremamente pacífico, que por alguma razão teve um rápido reflexo de abocanhar minha perna esquerda e quase me deixar manco.

Outro sintoma grave é o pensamento que tenho em relação à poodles e outros “cachorros de madame”. Posso até respeitar a opção deles, mas no fundo não considero o seu comportamento exageradamente delicado algo natural. Sei lá... Acho que Deus criou os cães para serem cães. Se Ele quisesse algo fofinho, limpo e afetado, teria os feito nascerem gatos. Já me flagrei até tentando ensinar um poodles a ser mais agressivo, achando que aquele comportamento “anormal” dele teria cura... Vejam só, que vergonha! Eu, que até então me considerava um cara respeitador das diversidades, achando que a delicadeza de algumas raças caninas tinha cura, como se fosse alguma espécie de doença.

Mas de hoje em diante lutarei para ser um novo homem. Preciso rever meus conceitos e ampliar a minha tolerância racial. Acho até que vou adotar o pobre vira-lata que meu amigo ofereceu. Também pretendo iniciar uma campanha para a promoção da igualdade canina, com idéias revolucionárias como cotas de miscigenação e abolição do tal pedigree, um documento infame que fomenta este regime de apartheid canino que presenciamos em silêncio. Que a mensagem se espalhe e logo todos se conscientizem que o importante não é o tamanho, cor ou tipo de pêlo do cão, mas sim o que ele carrega dentro de si.

2 comentários:

Favuca disse...

kkkkkkkkkkk VC? revendo conceitos? Rai ai... Quero ver como vai ser com o Pastor, o São Bernardo...

Anônimo disse...

Nossa!! Coitada da minha vizinha, o que ela vai fazer com a cadelinha cega e aleijada?
Vou te indicar para uma consulta.