Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: Relógio Implacável da Modernidade

segunda-feira, 10 de março de 2008

Relógio Implacável da Modernidade


A agilidade da informação, o mundo em tempo real, banco na internet, compras on-line e a lasanha Sadia são magníficas invenções para a otimização do precioso tempo do homem moderno, mas na minha concepção, no ponto de vista do vagabundo, esse tempo que a gente ganhou só serviu para aumentar as feridas do meu saco.

Coisas que eu demorava alguns dias para resolver hoje são tão rápidas que eu não tenho nem tempo de reclamar da vida. Por exemplo: no banco existem, além dos caixas humanos, que continuam lerdos e funcionando em poucos guichês como sempre (alias, porque existem tantos guichês no banco se eles nunca estão funcionando todos juntos?), existem várias máquinas que fazem todo o serviço bancário desde saques e depósitos até pagamento de água, luz, etc. (sem falar nas loterias e caixas de supermercado que fazem isso também). Aí você chega no banco, entra numa fila que leva no máximo 10 minutos e faz sua operação rápida e solitária. Não dá nem tempo de criar um vínculo afetivo com a galera da frente e de trás (no bom sentido), reclamando de quanto os caixas fazem um péssimo serviço e como o banco rouba da gente. Antigamente a gente ficava horas no banco, era um sacrifício tão grande que um dia inteiro era dedicado à isso...era quase uma ida ao cinema.

Hoje eu to a toa sentado no computador fazendo alguma coisa sem sentido e importância quando eu penso - "hum...tenho que sacar um dinheiro" (isso é só um exemplo hipotético, porquê eu nunca penso esse tipo de coisa, vocês imaginam o porque, não?) - Aí eu vou alí no loja de conveniências do posto de gasolina e cato uma merreca. Eu olho pro dinheiro e penso - "Hum....o que eu vou fazer com esse dinheiro? Acho que eu vou no Bob's" - Aí eu vou no Bob's, peço um Trio Big e sento alí pra comer. Satisfeito eu penso - "Hum...acho que eu vou dar um pulo no shopping pra ver se tem alguém de bobeira por lá. Chego lá e não acho ninguém. Pego meu celular e ligo pra uns amigos que logo chegam lá pra gente bater um papo - E assim vai. Foda que isso tudo deve ter tirado no máximo 2 horas do meu dia...

Se fossem tempos menos otimizados a história seria mais ou menos assim: Eu estaria assistindo alguma novela velha no "Vale A Pena Ver de Novo" e pensaria: "Hum...vou pegar um dinheiro" - Eu iria no banco e ficava uns 20 minutos (se não fosse início de mês) pra sacar um dinheiro no caixa. Na fila eu iria pensando - "Hum...acho que vou fazer um lanche" - Aí eu iria no supermercado comprar um hambúrguer, batatas, pão e coca-cola (com a grana de um lanche fast-food, dá pra isso e ainda tem troco). - Chego em casa, frito tudo, como pra caralho e penso - "Hum...acho que vou dar um rolé por aí pra ver se encontro alguém" - Aí vou pra uma praça ou pra praia e não acho ninguém, então eu vou atrás de um jornaleiro ou boteco pra comprar fichas pro orelhão. Com as fichas ligo para alguns amigos que em alguns minutos chegam onde eu estou. Nisso pelo menos 5 horas do meu dia se foram só nisso.

"deus" me deu 24 horas pra usar da melhor maneira possível, mas essas modernidades estão me inibindo de gozar a vida cada minuto, porque sobram horas que eu nem sei por onde preencher...

Um comentário:

Favuca disse...

Pra mim toda essa otimização do tempo só serviu pra eu ter mais trabalho. Se a máquina de lava az o serviço sozinha, sou obrigada a usar meu tempo livre lavando o banheiro ou limpando o quintal. Se o microondas economiza o tempo de cozinhar e a quantidades de panela para lavar, aí sou obrigada a usar meu tempo livre para passar (mal) minhas roupas. E as filas de banco? Ah, pra mim continuam imensas.