Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: Morte aos animais de pelúcia

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Morte aos animais de pelúcia

Depois da reprimenda promovida por uma de minhas leitoras, que me acusou de ser “uma pessoa que pensa estranho e que parece um velho bem rabugento formado em Filosofia”, resolvi, pelo menos por hoje, não falar de criaturinhas animadas que causam comoção e sim das inanimadas, que ainda não possuem um órgão de defesa de seus interesses... refiro-me aos bichinho de pelúcia...

Nunca tive um bichinho de pelúcia. Nunca vi graça nenhuma neles. Também nunca entendi o fascínio que as mulheres têm por esse brinquedo. Mas minha rejeição a ele não me levou ao ponto de me recusar a compactuar com essa indústria. Quer dizer, se uma mulher em quem eu estivesse interessado chegasse para mim e falasse que queria ganhar um CD de funk ou um livro do Paulo Coelho, eu pensaria: "Opa, amigo pênis. Lamento, mas não vai dar para te satisfazer. Não vou comprar lixo só para você aí em baixo se dar bem. Pode ser que um dia você tenha essa garota, mas vou avisando que não vou me esforçar para isso acontecer''. Já se ela falasse que queria um cachorrinho de pelúcia, tudo bem. Vou comprar um negócio que não vai ter utilidade nenhuma, mas pode valer à pena. Sim, porque tirando o fato que eles servem para ajudar a pegar mulher, os bichinhos de pelúcia são realmente inúteis para quem não é criança. Quando eu comprava Falcon, Playmobil ou Comandos em Ação, eu usava os brinquedos à beça. Inventa mil histórias com os bonequinhos. O mesmo devia acontecer com as meninas que compravam Barbie. Mas vai me dizer que uma mulher com 18 anos na cara, e na bunda, fica brincando com o bichinho de pelúcia? Você consegue imaginar uma mulher desligando a TV ou desmarcando uma saída para ir brincar com o bichinho de pelúcia? A única vez que vi uma mulher brincar com um deles foi num filme da Cicciolina. Mas poupe-me dos detalhes sórdidos...

O. K. Não vou pedir para ninguém botar a mão na consciência e parar de comprar de presente um negócio que fica depois jogado em cima da cama ou esquecido dentro de um armário. Pois o brinquedo pode levar nós, homens, a ganhar outro tipo de bichinho de pelúcia mais interessante e vivo, se é que vocês me entendem. Mas não tem mulher no mundo (ainda mais hoje, muito bem casado) que me convença a comprar um certo tipo de bichinho de pelúcia: miniaturas de animais que não têm pêlo em sua versão real. Isso eu não suporto, não compreendo e não vou tolerar mais. Por que diabos alguém faz uma orca de pelúcia? Porra, orcas não têm pêlos! Tartaruga de pelúcia. Caralho, tartaruga não tem pêlo! Não faz sentido! Eu acho que as mulheres vêem um tigrinho de pelúcia e pensam (na verdade, deve ser o inconsciente pensando): "tigres têm um pêlo lindo, mas são animais ferozes e perigosos. Mas esse aí pode ser meu. Posso dominá-lo e alisar seu pêlo na hora que eu quiser. Ele não poderá fazer nada. Nada. Nada! Há, há, há...". A teoria deve valer para ursos, leões e outros animais que são bolados com a raça humana e não hesitam em nos destroçar se dermos mole perto deles. Com um cachorrinho de pelúcia, as mulheres devem pensar assim: "Ai que bonitinho, dá vontade de abraçar... Parece um cãozinho de verdade, com a vantagem que não vai me dar trabalho para cuidar. Sem xixi, sem fedor, sem cocô... Amor, compra pra mim aquele cachorrinho? Custa só R$ 45". A teoria vale para gatinhos, coelhinhos, cavalinhos, porquinhos, vaquinhas e todos os outros animais que se deixam usar pelo pessoal munido de polegar opressor.

Mas o que passa pela cabeça de alguém que quer uma tartaruga de pelúcia? Ela vai fazer carinho no brinquedo? Por quê? Ela gostaria de fazer carinho numa tartaruga de verdade? Que tipo de gente tem vontade de fazer carinho numa tartaruga, um bicho todo encouraçado que não entende o que você fala, não acompanha a gente pela casa e ainda por cima come cocô com o maior prazer. Uma vez vi num quintal um cágado comendo um cocô enorme enquanto um cachorro latia para ele num misto de terror e reprovação. Ficou claro para mim nesse dia que as tartarugas (cágado, jabuti, é tudo a mesma coisa) estão escadarias abaixo na escala evolutiva, pois levam esporro de cachorro). Mas mesmo se tartaruga não comesse merda, o que é atraente nela? O que te dá vontade de fazer carinho? Nada. Então por que comprar uma tartaruga de pelúcia? Mas a insignificância dos jabutis nem importa tanto. A questão fundamental é que tartarugas, golfinhos e orcas de pelúcia são uma fraude. São uma falsidade ideológica. São aberrações entre os brinquedos. E é uma anomalia de caráter querer ter um deles.

E tenho dito...

3 comentários:

Favuca disse...

Você fala assim porque não conhece Bradock (tem esse nome mais é fêmea). Ela é o cágado mais veloz que já conheci, tem sentimentos, é apaixonada pelo meu cachorro e gosta de pirraçar todo mundo. Ah, e eu faço carinho nela, viu?

Anônimo disse...

Você não tem sentimento.
Eu tenho um cágado de estimação...
Aliás,três...
Uma é chata como vc.

Anônimo disse...

Sinceramente.....é bom saber que você existe! Já disse isso a muitas pessoas que encontrei pela vida e foram especiais pela maneira de pensar, de agir, de demonstrar idéias...só que você meu caro, me fez perceber o quanto um homem pode ser desprovido de graça, encanto e ternura. Não que um bicho de pelúcia seja importante, ou se transforme em passaporte para que alguma mulher seja "comida" (como você alega), mas metaforicamente falando talvez você jamais entenda (e nem vou perder meu tempo tentando lhe explicar), o quanto poderia ser significativo presentear alguém com um bichinho...não é para brincar...e sim para ficar num cantinho para que seja olhado, abraçado...uma analogia a um gesto de carinho...coisa que talvez não faça parte do seu vocabulário de vida...já que suas palavras são ásperas como cimento! (Deveria experimentar a maciez de uma pelúcia).