Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: O SEGUNDO PRISIONEIRO - a HiSToRia SeCReTa da PHiLoSHoFia - PARTE I

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O SEGUNDO PRISIONEIRO - a HiSToRia SeCReTa da PHiLoSHoFia - PARTE I


Eis que me lembro dos acontecimentos que giraram em torno de minha vida, de maneira muito clara, como se estes tivessem acontecido ontem, se bem que, do que aconteceu ontem, não pareço lembrar-se com tamanha nitidez... o certo é que estávamos todos como sempre, eu e meus coitados irmãos, na velha e caótica morada subterrânea onde depositávamos nossos corpos. A vida e a existência havia nos presenteado adversamente com a triste realidade que vislumbrávamos: uma fétida caverna, sem conforto, sem comida, quase sem bebida, enfim sem alegria, sem perspectiva, sem mulheres, se bem que este último, nós nem sentíamos muito falta, pois mesmo tão desafortunados, ainda éramos contemplados com nossas mãos e o adequado comprimento de nossos braços...

O calor era invariavelmente intenso, como se estivéssemos numa grande estufa, e consequentemente o cheiro, quer dizer, o fedor do suor alheio permeava-nos as narinas. Tal fedor em muito se justificava pelo fato de não termos como fazer do banho um hábito diário. Tomávamos banho quando chuvia muito a ponto de a água envadir nossa caverna sem dó nem piedade. Na verdade, mal tínhamos o que beber durante boa parte do ano. A água que tínhamos era fruto das águas que desciam caverna adentro nos dias de temporal e que traziam consigo além da água lamenta, folhas, carcaças de animais, e toda espécie de putrefação externa que tínhamos direito e que aceitávamos como benignidade dos deuses, isso, sem mencionar, a merda diária que fisiologicamente também éramos produtores. Mais felizes éramos quando tais águas simplesmente minavam das paredes de pedra maciça nos outros períodos. Essas águas formavam um pequeno e não menos fedido lago lamento no fundo da caverna.

Eu e meus companheiros estávamos desde a tenra idade naquele recinto. Logo, quando muitos jovens, fomos privados da realidade exterior àquela caverna, só tínhamos lembrança das experiências vividas em comunidade na caverna. Não sabíamos ao certo se havia alguma realidade fora da caverna, pois para nos “o fora” simplesmente não representava sentido algum.

Para que não corrêssemos risco de fugir da caverna, nossos algozes, os deuses, (veja que imaginação a nossa), haviam providenciado fortes correntes para nós, onde com “coleiras” estávamos acorrentados no pescoço, feito cão que não se comporta direito com seu dono e que sai cagando tudo, com “braceletes” em ambos os punhos e tornozelos, de modo que mal podíamos nos mexer. Desgraçadamente, tais apetrechos de terror causavam terríveis feridas, que em sendo mal tratadas, criavam notáveis cicatrizes. Curiosamente isso servia de entretenimento. Na falta do que fazer competia divertidamente uns com os outros em duas modalidades: o da maior cicatriz e o da mais bela (na verdade mais feia e infeccionada) ferida, pereba, como gostávamos de nos referir às chagas menos aneláveis. Os ganhadores eram presenteados com uma quantidade maior de água, e quando enfim tínhamos o que comer, estes eram os primeiros a participarem do bocado.

Diante da triste realidade que constatávamos em adição a ociosidade de nossas vidas, apenas restava olhar, com certa medida de meditação e resignação, para a parede que jazia a nossa frente, como se fosse uma tela de cinema. Devido a uma fogueira acessa por traz de um grande muro que havia atrás de nós, víamos as projeções de alguns artefatos que transeuntes desconhecidos traziam amarrados à cabeça, e que devido a luz projetava sombras no paredão. Nunca, absolutamente nunca nos virávamos para a fogueira, pois intuímos a idéia que se assim fizéssemos imediatamente ficaríamos cegos.

Cada projeção ali apresentada, embora não soubéssemos a razão de sua existência ou fonte, assumia para nós as aspirações de nossos sonhos, até os mais contidos e eróticos. Lembro-me que certa vez, um de nossos companheiros, de nome Wehadinho que já contava uns 40 anos de cárcere, chorou emotivo ao vê projetado na parece algo que se parecia com um pepino, que quando projetado, assumia ares de grandeza e estirpe avassalador. Interrogado por mim sobre as razões que o levava a chorar afeminadamente, ele respondeu com aquela língua pressa, a ele tão peculiar:
- Menino, é que com esta imagem membruda, me faz recordar de um antigo bofe, que ficava acorrentado ao meu lado no canto da caverna...
- E ele representou assim tanto para você?
- Claro que sim! Nós éramos muito íntimos...
- Sei... e o que aconteceu com ele?
- Morreu... pegou infecção no pinto. Como ele era muito travesso, acabou comendo o que não devia e...

(Chega de viadagem) De qualquer forma, tais projeções se somando a nossa miserável vida e as lastimáveis condições, correspondiam bem às nossas perspectivas e nossa realidade. Embora nosso cotidiano parecesse demasiadamente tedioso, para nós tudo era compreensivelmente aceitável. Nossa miséria era bênção dos deuses... nossas doenças eram benções dos deuses... nossa ignorância era bênçãos dos deuses, nossa falta de higiene e o péssimo odor de nosso lar era uma puta falta de vergonha dos deuses que praticam verdadeiras orgias no Olimpo e ainda nos prendiam nesta porra de caverna com mãos de pés atados...

Além das sombras, ouvíamos vozes, que desconfiávamos não serem as nossas. Essa dedução nos parecia lógica partindo do princípio de que mesmo quando todos nós estávamos calados, ainda assim elas se pronunciavam. “Seriam fantasmas?”, se interrogavam alguns. Mas essa suposição nos parecia muito estúpida, pois, afinal, vivendo sob aquelas condições, e ainda acreditar em porra de fantasma, era forçar a barra para as coisas serem ainda piores. Se for para acreditar em baboseiras, bastava crê nos deuses.

Enfim, nada parecia mudar, quando por mero acaso, um companheiro que estava ao meu lado direito, me falou em tom baixo, quase imperceptível que havia descoberto algo de novo que poderia transformar as nossas vidas. Lembro-me que primeiro me incomodei com o péssimo hálito dele (algo que parecia o fedor de um macaco morto a tapa). Disfarcei, tentando manter a educação, falando com ele sem respirar pelo nariz. Desta maneira, fui poupado de sentir o cheiro, ou melhor, fedor de cadáver que saia de sua boca. Ora, mesmo sem conhecer ao certo o que era a lua, eu já encarava aquele meu colega de agonia como um lunático, um maluco mesmo. Todos evitavam contato como ele, não somente por causa de seu mau hálito, mas também, porque ele sempre teve idéias esquisitas...

continuação...

2 comentários:

Anônimo disse...

Rapa, mas esse povo das cavernas era mesmo muito inteligente!!! E olha q eles nunca sairam de la. No dia q isso acontecer a popularidade de Einstein esta ameacada. rsrsrsrs

Anônimo disse...

Ah, da proxima vez q eu me oferecer pra corrigir seu texto aceite por favor e poupe seus leitores de ver coisas do tipo orgia c "u" e fogueira acessa. kkkkkkkkkk Orgulhhooooosoooo!!!!