Ó Paisagem nua, Dor! - Monólogos Franjhunio: A única certeza é a morte (como diria Samartin)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A única certeza é a morte (como diria Samartin)


Por mais que me digam que a morte é uma coisa simples e natural eu não consigo acreditar. Se a morte fosse simples nós não faríamos algumas idiotices, como por exemplo, vestir o defunto com o seu melhor terno, para que ele seja enterrado com elegância. Ou então colocar um travesseiro bem confortável no caixão, talvez pra que o morto não acorde no meio de sua 'vida eterna' com torcicolo. Acho que as pessoas não fazem a mínima idéia do que possa ser a vida eterna, depois de milênios a nossa avançada civilização ainda não se decidiu se partirmos para uma festa de formatura ou se vamos apenas puxar um ronco.

E a alma, será que isso existe? Se já é complicado pra nós definir o verdadeiro destino de um pedaço de carne em putrefação, quanto mais especular sobre a existência de alma... Só sei que se o espírito existe deve ser maneiro. Imagine o alívio que pode provocar esta descoberta... você acaba de ser atropelado por um caminhão cegonha e está estiradão lá no chão, parecendo um pudim, seus últimos pensamentos se misturam a sua dor, você vive o maior conflito de sua vida - valeu a pena acordar cedo para ir a tantas missas ou foi tudo em vão? - e finalmente você vê aquela famosa luz que te puxa para fora do seu corpo (que esta hora já virou capa do TRIBUNA DA BAHIA, A ATARDE, se for em estrada estadual CORREIO DA BAHIA), que alívio, a vida eterna existe realmente, e enquanto é puxado você se lembra daqueles seus amigos que se diziam ateus só para dar uma de intelectualóides esclarecidos, que satanás os tenha...

A vida eterna você já sabe que existe, e agora? Vai rolar alguma espécie de julgamento? Você vai reencarnar em forma de cachorro? Ou vai direto pro inferno? Prefiro ficar com a idéia do julgamento, deve ser hilário (sem trocadilhos infames) ver uma alma fazendo sua autodefesa: -"Pô Deus vê se alivia aí, o senhor tem parte da culpa, tu foi me colocar logo no Brasil, Bahia, em Salvador... assim fica difícil ser fiel, não xingar o juiz de futebol, não fazer macumba no final de ano, ser generoso com aquela merreca que eu ganhava, gostar da sogra, não pegar os vinte por cento de comissão, maneirar na gula e finalmente não ter comprado a Playboy da Carla Perez...se o senhor tivesse me colocado na Suécia eu teria sido um cristão exemplar"...

Dizem que quando agente morre toda nossa vida passa diante de nossos olhos como num flash-back. Acho que isso não deve ser muito divertido para as pessoas que já nasceram cegas... imagine só... ouvir um flash-back da vida, naquele fundo escuro, deprimente... pior só se for em estilo de rádio AM com a narração do Mário Kertez. E os surdos? Morrem vendo 'Esta foi a sua vida', colorizado por computador mas sem trilha sonora, talvez com alguma legenda, na pior das hipóteses com aqueles cartazes dos filmes do Chaplin. Podre mesmo deve ser o flash-back de um cego-surdo, pior que isso só os melhores momentos de Malhação.

Nunca fui em um enterro, e na verdade só sinto curiosidade de ir em um...no meu é claro. Acho que todo mundo gostaria de ir no próprio enterro, ver se o pessoal está sentindo muito a sua morte, ver quem foi e quem faltou, se alguém já está brigando pela herança ou se o seu melhor amigo já está urubuzando a viúva. Uma tia minha uma vez disse que não quer ninguém chorando no enterro dela, ela prefere que toda a família vá para um bar e tome umas cervejas em sua memória, no dia eu achei estranho, mas hoje a idéia me agrada, vou até dar uma sugestão na próxima vez que ela comentar isso. Vou sugerir que a cortemos em pedacinhos acebolados, e a enterremos numa bandeja com uns chopes, só pra garantir o happy-hour das bactérias.

Um comentário:

Raquel Maciel disse...

aaaaaaaah! Gostei, gostei.

E gostei.